Título: Amorim apela a Ahmadinejad por americanos
Autor: Godoy, Fernanda
Fonte: O Globo, 23/09/2010, O Mundo, p. 37

Proposta da Rússia de proibir sanções unilaterais ao Irã é discutida e bem recebida em reunião dos Brics

O CHANCELER Celso Amorim deixa uma reunião com representantes de Indonésia, Índia, África do Sul e ANP: apoio à Rússia

NOVA YORK. O presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, recebeu ontem do ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, um pedido pela libertação dos cidadãos americanos Joshua Fattal e Shane Bauer, presos há 14 meses após cruzarem a fronteira entre Iraque e Irã. Do grupo fazia parte também Sarah Shourd, libertada no último dia 14, e que agradeceu pessoalmente a Amorim pela mediação. O encontro de ontem, realizado a pedido de Amorim, aconteceu na sede das Nações Unidas e durou cerca de 30 minutos. Na saída, Amorim evitou entrar em detalhes sobre a conversa.

- Foi criada uma boa relação (entre Brasil e Irã). Uma boa relação sempre ajuda a resolver problemas. O presidente do Irã aprecia a nossa sinceridade, a nossa maneira de trabalhar pela paz, e acho que isso terá bons efeitos em vários aspectos - afirmou o ministro.

O chanceler brasileiro tem sido cuidadoso para que não pareça que ele ou o governo Lula estão tentando reivindicar o crédito por qualquer avanço nesta negociação. Após a libertação de Sarah, Ahmadinejad chegou a Nova York, onde hoje participa da Assembleia Geral da ONU, dizendo que agora é a vez de o governo dos EUA fazer um gesto a oito cidadãos iranianos que estão presos no país.

No ano passado, Amorim já havia levado cartas das mães dos três jovens americanos, presos quando faziam uma trilha nas montanhas, na fronteira entre Iraque e Irã. Ao entrar em território iraniano, o grupo foi acusado de espionagem.

Ontem à tarde, antes da reunião com o líder iraniano, o chanceler disse que o tema é delicado, mas que havia se comprometido com Sarah e com parentes dos dois presos, garantindo que o Brasil manteria o interesse pelo caso, visto como uma questão humanitária.

Amorim contou ainda que na reunião dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China), na terça-feira, foi discutida uma proposta russa para uma resolução da Assembleia Geral da ONU contrária a sanções unilaterais.

-- Não é conveniente, principalmente quando um assunto está sendo discutido no Conselho de Segurança, ser objeto de sanções unilaterais. Se não, pra que serve o Conselho de Segurança? - questionou.

Amorim voltou a ressaltar que o Brasil sempre foi contrário a sanções unilaterais e votou contra a medida no conselho.

- O Brasil não achava oportunas as sanções contra o Irã, mas as acatou. Acatou porque são sanções multilaterais. O Conselho de Segurança é o órgão legal para determinar essas sanções. Mas, se além disso, os países adotam sanções unilaterais que podem afetar os interesses de terceiros, é algo que nós não desejamos - disse Amorim.

Segundo o chanceler brasileiro, não houve ainda uma decisão, mas Brasil, Índia e China vão estudar a proposta da Rússia com um olhar favorável. A proposta ainda levará um ou dois meses em discussão, e por isso não é possível antecipar os termos exatos.

Brasil reconhece limites de resolução

Amorim reconheceu os limites de tal resolução, já que não há meios legais de proibir sanções unilaterais de um país contra outro. A resolução teria um caráter mais político, mas reforçaria também a pressão pela suspensão do embargo comercial dos EUA a Cuba. O ministro disse ainda não acreditar que uma resolução desse tipo fira a soberania da política externa dos países que decretam as sanções unilaterais:

- Eles (os que aplicam) é que estão ferindo a soberania dos outros. Se nós queremos vender frango para o Irã, que é uma coisa absolutamente normal e serve para a alimentação das pessoas, encontramos dificuldades por causa das transações bancárias, isso é uma coisa que não é correta.