Título: Democratas e republicanos atrás de seu eleitor cativo
Autor: Luxenberg, Steve
Fonte: O Globo, 23/09/2010, O Mundo, p. 36

Abalada pelo Tea Party, oposição lança manifesto contra o governo, que tenta preservar maioria na Câmara

WASHINGTON. O tabuleiro eleitoral para o pleito legislativo de 2 de novembro criou um curioso cenário político nos Estados Unidos. Mais do que buscar a preferência de eleitores indecisos, independentes ou tentar converter votantes da oposição, os partidos Republicano e Democrata se viram obrigados a assegurar a fidelidade de seus próprios simpatizantes. Pressionados pelo contínuo crescimento de militantes e de candidatos do ultraconservador Tea Party no interior de seu partido ¿ com inesperadas vitórias em eleições primárias estaduais ¿ os republicanos procuram retomar o controle da situação e a predominância do discurso.

Entre as estratégias para atingir o objetivo, está a divulgação, hoje, de uma nova versão de seu ¿Contrato com a América¿, apresentado originalmente por Newt Gingrich, em 1994. A iniciativa é repleta de simbolismos. Naquele ano, o Partido Republicano reconquistou nas urnas a maioria parlamentar na Câmara, durante o primeiro mandato do presidente democrata Bill Clinton.

Incomodados pelo radicalismo da dissidência do Tea Party e criticados pelos democratas pela ausência de ideias e de propostas, os líderes republicanos prepararam um documento propagandeado como uma sólida plataforma de governo. O novo contrato, no entanto, sublinha basicamente o que a oposição já vem repetindo há quase dois anos. Dispara contra as reformas da saúde e da regulação do sistema financeiro ¿ aprovadas pelo governo Obama ¿- contra os altos gastos públicos, e prega a prorrogação da totalidade de corte de impostos implantado por George W. Bush, inclusive para os ricos, que vence em 1º de janeiro.

A oposição promete não ficar apenas no discurso, mas usar todos os meios legislativos ao seu alcance para boicotar, atrasar e desfigurar a reforma da saúde recentemente aprovada. Os republicanos também anunciam todos os esforços para permitir a aprovação de novos recursos públicos exclusivamente para gastos com as Forças Armadas e a segurança nacional.

¿ Não vamos dar nem um centavo sequer do dinheiro público ¿ garantiu o líder da minoria na Câmara, John Boehner, já de olho no posto de líder da maioria numa eventual vitória republicana em novembro.

Michelle Obama entra na campanha para combater falta de entusiasmo democrata

O Partido Republicano deixa claro que, se alcançar a maioria no Congresso, não liberará recursos para os programas de estímulo da economia e da infraestrutura no país ¿ anunciados pelo presidente Barack Obama.

Pelo lado democrata, há uma grande preocupação com a falta de entusiasmo e de motivação militante de seu eleitorado. Uma recente pesquisa de opinião do Instituto Gallup apontou que 47% dos republicanos se dizem ¿muito entusiasmados¿ para votar nas eleições de novembro, contra apenas 28% no lado democrata.

¿ A prioridade dos democratas, para evitar o que seria uma eleição desastrosa, é mobilizar os votantes democratas ¿ disse Joe Libermann, senador independente e simpatizante democrata.

Para o presidente Barack Obama, este ¿é o momento decisivo¿ da campanha. Além de ter relançado temas caros ao tradicional eleitorado democrata ¿ como direitos dos imigrantes ou dos homossexuais no serviço militar ¿, o partido do governo vai recorrer à popularidade de Michelle Obama.

Na segunda semana de outubro, a primeira-dama viajará a Chicago para reuniões de arrecadação de fundos para candidatos democratas. Será sua primeira atuação política desde sua marcante participação na campanha presidencial do marido, em 2008.