Título: Petrobras leva R$120 bilhões na capitalização
Autor: Bôas, Bruno Villas; Carneiro, Lucianne
Fonte: O Globo, 24/09/2010, Economia, p. 29
Ações sairão por preço até 2% abaixo da cotação do mercado. Analistas criticam e veem avanço do governo na estatal
CLENIO FONSECA reservou ações na oferta prioritária da Petrobras e espera alta dos papéis
As ações da oferta pública da Petrobras sairão por um valor até 2% abaixo das cotações dos papéis já em circulação no mercado. A estatal informou ontem que as ações ordinárias (ON, com direito a voto) custarão R$29,65 e as preferenciais (PN, sem direito a voto), R$26,30. Com isso, a empresa informou que arrecadou R$120,36 bilhões com a capitalização, confirmando a operação como a maior já registrada no mundo, em cerca de US$70 bilhões.
A reunião do Conselho de Administração, que definiu o preço das ações a serem emitidas, terminou um pouco antes das 22h de ontem. Parte das ações será adquirida pelo governo e a expectativa é que a União, já acionista majoritária da Petrobras, amplie sua participação no capital da empresa (hoje de 29,6%). O preço das ações PN da oferta ficou 1,9% abaixo do fechamento dos papéis negociados ontem na Bolsa, R$26,80, e o das ON, 2% menor (as ON fecharam ontem a R$30,25 na Bovespa).
Os novos papéis começam a ser negociados na segunda-feira, na Bovespa. Hoje, estreiam na Bolsa de Nova York. Na Bolsa paulista, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva participa também hoje de cerimônia, ao lado do presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, para celebrar a oferta de ações.
Para um analista, os descontos dos papéis em relação ao preço praticado na Bolsa foram significativamente baixos. Segundo ele, muitos investidores que estabeleceram limites máximos de preços nas reservas das ações podem ficar de fora da oferta.
- Se você oferecesse esse prêmio de 2% para os acionistas, metade não teria aceitado subscrever. É muito pouco diante dos riscos de diluição e ingerência política da Petrobras. Nas últimas grandes ofertas ao mercado, esse desconto ficou entre 5% e 6% - explicou o analista.
Ações chegaram a subir mais de 5% ontem
Para ele, com mais sobras aumentam as chances de o governo elevar sua participação na Petrobras. O analista acredita que a alta de mais de 5% das ações da Petrobras na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) ontem foi puxada por bancos coordenadores da oferta, que queriam aumentar o valor das ações da capitalização:
- Se isso não tivesse acontecido, os papéis ficariam mais caros que os preços nos mercados, o que seria uma sangria. Isso nunca aconteceu.
Ontem, um dia após o fim do período da reserva da oferta, investidores fizeram uma verdadeira corrida pelos papéis da companhia, que chegaram a subir mais de 5% na Bovespa. Fundos, bancos e grandes e pequenos investidores foram às compras apostando que, com o fim da capitalização da estatal, os papéis vão se valorizar e poderão embolsar bons lucros. Quanto mais as ações subiam, mais investidores compravam.
- O dia foi marcado por muitos rumores sobre o resultado da capitalização. Um deles era de que a operação teria sido um sucesso, com o dobro da procura em relação às ações que eram ofertadas - disse o gestor de um fundo de investimentos.
Durante o pregão, as ações PN chegaram a subir 5,69% e as ON, 5,12%. No fim do dia, a corrida perdeu força, mas os papéis ainda lideraram os ganhos no Ibovespa, principal índice da Bolsa, com altas de 3,16% (PNs) e 1,92% (ONs). E a Bolsa fechou em alta de 0,69%, aos 68.794 pontos.
Desde 3 de setembro, quando a Petrobras divulgou o prospecto da oferta, as ações PNs da empresa haviam encolhido 5,87% até ontem antes da disparada de preços. Já as ações ONs acumulavam uma queda de 4,99%.
Os rumores de que a capitalização teria tido procura muito maior que a oferta também levaram investidores institucionais (como grandes bancos e fundos) a comprarem as ações na Bolsa. Eles temem o chamado rateio, quando nem todos os investidores conseguem comprar na oferta as ações que desejam.
- Com receio de não conseguir levar tudo o que reservou, o investidor correu para comprar ações no mercado - explica Márcio Macedo, sócio-gestor da Humaitá Investimentos.
Ele explica que, com a queda das ações no ano, muitos gestores reduziram a fatia da Petrobras nos fundos, mas agora têm que recompor esta participação. Na carteira do Ibovespa, o peso da estatal é de 12,375%.
Pequenos investidores arrependidos de não terem aderido à oferta ou que perderam o prazo de reserva, que terminou na última quarta-feira, também foram comprar os papéis diretamente na Bolsa, segundo operadores.
Já o empresário Clenio Fonseca garantiu os papéis na oferta prioritária. Ele coordena um clube de investimento com seis participantes e reservou ações para manter a fatia na companhia.
- Nossa expectativa é que a ação vai subir. Além disso, é um papel de muita liquidez, o que é fundamental em um clube de investimento - diz Fonseca, que opera pela Investotal.
Dólar recua 0,06% e fecha a R$1,720
No fim do pregão, as ações movimentaram R$1,9 bilhão, maior volume em quase sete meses, com 53 mil negócios. Isso permitiu à Bovespa estabelecer ontem um recorde histórico de negócios em um pregão: 662.406 negócios, superando a marca anterior de 634.536 negócios de 6 de maio deste ano. O volume da Bolsa ficou em R$9,2 bilhões.
Segundo Leandro Silvestrini, da Intrader Corretora, o mercado foi pego de surpresa.
- O mercado achava que as ações ficariam em stand-by, esperando a definição do preço das ações. Em vez disso, as ações da Petrobras romperam cinco pontos de resistência.
Já o dólar comercial fechou a R$1,720, em ligeira baixa de 0,06%. O Banco Central (BC) fez dois leilões no mercado à vista e comprou até US$400 milhões.