Título: Potencial inexploravel
Autor:
Fonte: O Globo, 27/09/2010, Opinião, p. 6

Episódios de violência ocorridos na Zona Norte do Rio de Janeiro são reflexo de um fator preponderante: falta de oportunidade. A solução para reincidentes conflitos armados no Complexo do Engenho Novo está no desenvolvimento do turismo ecológico sustentável e na geração de empregos verdes na região. E um grande passo nessa direção pode estar na criação de uma unidade de conservação na Reserva de Desenvolvimento Sustentável da Serra do Engenho Novo.

Localizada na Zona Norte carioca, a Serra do Engenho Novo é formada por um conjunto de morros que separam o bairro de Vila Isabel dos de Sampaio, Riachuelo, Rocha e São Francisco Xavier, e é cortada pelo Túnel Noel Rosa, via local de tráfego intenso. Palco de recente conflito, a região encontra-se completamente abandonada. O parque Recanto dos Trovadores está sem manutenção, assim como o nosso querido antigo jardim zoológico, que desde 2005 está à espera de uma vila olímpica. Já a escola de jardinagem da Fundação Parques e Jardins na região, sem atenção do poder público, teve suas atividades interrompidas.

A criação da unidade de conservação na serra seria uma alternativa viável de retomada do desenvolvimento da região. E as possibilidades da área são incalculáveis. Formado por vegetação remanescente de Mata Atlântica e grandes paredões rochosos, com destaque para a beleza cênica local e belas paisagens da Baía de Guanabara e do Parque Nacional da Tijuca do Alto da Serra, o bioma em questão apresenta grande potencial de desenvolvimento do turismo ecológico sustentável e da economia verde.

Emprego e progresso atrairiam as atenções da cidade para o local e, consequentemente, maior presença do poder público. É bom lembrar que a região comporta grande trecho do caminho que liga o Maracanã ao Engenhão, ou seja, trata-se de roteiro obrigatório da Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas de 2016. Assim sendo, a revitalização da área e a manutenção da paz no complexo são fundamentais para o sucesso da realização das competições, o que faz com que a questão ultrapasse as prerrogativas dos poderes municipal e estadual, e alcance a esfera da União.

Para viabilizar a criação de uma unidade de conservação na região se faz necessária a relocação de parte dos moradores da Serra do Engenho Novo para outros pontos do bioma, que apresenta diversos espaços ociosos, a exemplo de fábricas e depósitos desativados no entorno da linha férrea. Os próprios moradores podem ser prioritariamente aproveitados como força de trabalho na ocupação das vagas geradas a partir do desenvolvimento da economia verde, tais como as funções de guarda-parques, monitores ambientais, garis comunitários e guardiões dos rios.

O que mais será preciso acontecer para que o poder público enxergue a cidade como um todo e não de forma segmentada? Pensar em políticas ambientais para essa região carente da atenção do Estado seria um passo importante na integração de pontos estratégicos da cidade, atualmente isolados e sem qualquer perspectiva de interação.