Título: Laudo revela; meningite viral matou Joana
Autor: Araújo, Vera
Fonte: O Globo, 27/09/2010, Rio, p. 18

Causa da morte de menina, em coma após ser atendida por falso médico, não explica queimaduras e hematomas

A MÃE DE JOANNA, que acusa o pai da menina de maus-tratos, participa de manifestação em Copacabana, pedindo que caso seja esclarecido

JOANNA: morte aos 5 anos

A menina Joanna Cardoso Marcenal Marins, de 5 anos, morreu, no mês passado, de meningite causada pelo vírus da herpes. Esta foi a conclusão a que peritos do Instituto Médico-Legal (IML) chegaram sobre o caso da criança, que passou quase um mês em coma, internada numa clínica em Botafogo, após sofrer convulsões e ter sido atendida por um falso médico no hospital Rio Mar, na Barra. Ao dar entrada na UTI, Joanna tinha hematomas nas pernas e sinais de queimaduras nas nádegas ¿ o que levou a polícia a investigar maus-tratos.

O laudo que aponta meningite como a causa da morte não esclarece nada sobre as marcas que Joanna apresentava. O IML ainda depende de exames complementares, que estão sendo realizados, para dar o resultado final da análise da queimadura. A mãe da menina, a médica Cristiane Cardoso Marcenal Ferraz, acusa o pai de Joanna, o técnico judiciário André Rodrigues Martins, de maus-tratos. O casal disputava na Justiça a guarda da filha desde o nascimento dela.

Falso médico levantou suspeitas sobre madrasta

Em julho, quando estava na casa do pai ¿ a menina foi afastada da mãe por 90 dias por decisão de Cláudia Viera, juíza da 1ª Vara de Família de Nova Iguaçu ¿, Joanna apresentou, segundo André, convulsões. Ela foi levada pelo pai a dois hospitais, entre eles o Rio Mar. Lá, foi atendida pelo falso médico Alex Sandro da Silva Cunha, um estudante de medicina que liberou Joanna embora ela estivesse desacordada. Em seu primeiro e único depoimento à polícia, Alex, que agora está foragido, levantou suspeitas contra a madrasta da criança, Vanessa Maia. Segundo ele, Joanna pediu no hospital para ir ao banheiro, mas Vanessa teria dito que ela não precisaria tirar a calça, pois estava de fralda. Naquele dia, a criança já tinha a queimadura nas nádegas, produzida 40 dias antes, conforme foi constatado pela perícia.

Apesar de todas as dúvidas que cercam o caso, o que matou Joanna, segundo o laudo, foi a meningite provocada pelo vírus da herpes. Segundo o infectologista Edmilson Migowski, professor de infectologia pediátrica da UFRJ, o contágio com o vírus pode acontecer pelas vias aéreas ou pelo contato com pessoas ou objetos contaminados. Mais conhecido por provocar lesão labial, o vírus da herpes, num organismo com imunidade baixa, pode afetar o sistema nervoso central, evoluindo para uma encefalite. De acordo com o especialista, na maioria dos casos, com o tratamento adequado, a pessoa é curada, mas há históricos de sequelas, como paralisia.

¿ A regra, no caso de meningite viral por herpes, é ter uma infecção localizada, febre e mal-estar, mas isso depende do sistema imunológico do paciente. Em tese, no caso da Joanna, ela poderia estar com a imunidade baixa por estar sofrendo algum tipo de estresse. A questão familiar pode influenciar, isso é um fato. O próprio estresse pode causar a imunodeficiência transitória. Se isso coincidir com a infecção por vírus, o caso pode se agravar. A meningite viral por herpes pode causar convulsões e rigidez na nuca ¿ explicou Migowski.

Ele disse ainda que, quando a criança apresenta um quadro de meningite, não é possível saber se ela foi causada por vírus ou bactéria. Para descobrir e escolher o tratamento adequado, é necessário fazer uma punção lombar.

¿ Nem todo hospital tem recursos para identificar o vírus, mas é possível que o paciente dê pistas de que apresenta sintomas da meningite por vírus, como ter aftas na boca e inflamação na gengiva. Uma criança pode pegar ao compartilhar chupeta, brinquedos ou ter contato com um adulto infectado ¿ explicou o especialista.