Título: Meirelles admite taxação de investidor estrangeiro para frear queda do dólar
Autor: Duarte, Fernando; Beck, Martha
Fonte: O Globo, 29/09/2010, Economia, p. 26

Mantega afirma, porém, que não haverá mudança no IOF antes das eleições

LONDRES, WASHINGTON e BRASÍLIA. Um dia depois de o ministro da Fazenda, Guido Mantega, falar que há uma "guerra cambial" na economia mundial, o presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, foi mais brando nos termos, mas admitiu a possibilidade de um aumento na taxação do capital estrangeiro como forma de frear a valorização do real. Horas depois, no entanto, Mantega, afirmou que ainda não está prevista nenhuma alteração na alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) que incide sobre a entrada de recursos estrangeiros no país. Diante da forte valorização do real em relação ao dólar, o governo vem sendo questionado sobre quais medidas poderá adotar para evitar que esse movimento continue.

- Eu olho (o mercado) todos os dias, observo o movimento e, nesse momento, não há movimento que justifique essa medida - disse Mantega, ressaltando, no entanto, que o quadro pode mudar:

- Depois das eleições, eu não sei. É claro que todas as possibilidades ficam em aberto. Se o câmbio se comportar de forma inadequada, há várias medidas, inclusive no âmbito do BC, que podem ser adotadas. Eu não descarto nenhum mecanismo, mas não há iminência de aplicação de nenhum.

Pouco antes das novas afirmações de Mantega, Meirelles disse, em entrevista coletiva em Londres, que o Brasil não deve pagar pela excessiva desvalorização de outras moedas e voltou a defender que uma política de homogeneização ocupe lugar de destaque na pauta de discussões da reunião dos países do G-20, em novembro, na Coreia do Sul.

- Prefiro não usar adjetivos, mas é evidente que há um sério problema cambial que precisa ser resolvido. O Brasil não vai pagar o preço pelos desequilíbrios, e a possibilidade de um aumento no imposto está em aberto - afirmou Meirelles.

Já Mantega sinalizou que eventuais mudanças na alíquota do IOF não serão para os investimentos estrangeiros em Bolsa, e sim em renda fixa.

O presidente do BC, que esteve em Londres para uma palestra a convite do Banco do Brasil, disse entender que em alguns países a desvalorização é consequência de políticas econômicas, mas, sem citar nomes, criticou governos que estão promovendo desvalorizações forçadas para aumentar a competitividade de suas exportações.

Já o diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn, disse ontem que não vê riscos de uma guerra cambial, mas reconheceu que isso é uma preocupação. Ele afirmou que os esforços dos países para desvalorizar suas moedas serão discutidos na reunião do FMI e do Banco Mundial, nos próximos dias 8 e 9, e na cúpula sul-coreana do G-20.

- O centro da questão é se este é ou não o tipo de solução que podemos dar a essa situação global. A resposta é não - afirmou Strauss-Kahn.

Após dois leilões do BC, dólar fecha estável, a R$1,71

Meirelles explicou que o BC continuará com as operações de compra de dólares sempre que necessário, mas que não há uma cotação-alvo para a moeda americana. O dólar fechou ontem estável, a R$1,710. O BC fez dois leilões no mercado à vista para comprar a moeda americana, e a estimativa é que tenha retirado de US$300 milhões a US$350 milhões de circulação.

- Estamos enfrentando alguma dificuldade em termos de entrada de capitais. Precisamos manter o sistema financeiro em equilíbrio e a inflação sob controle. A longo prazo, essa valorização pode trazer problemas - disse Meirelles, que evitou falar sobre seu futuro político, em especial a respeito de rumores de que permanecerá no governo caso a candidata do PT, Dilma Rousseff, vença.