Título: Venezuela comparece em massa às urnas
Autor: Jorge, Elianah
Fonte: O Globo, 27/09/2010, O Mundo, p. 23
Partido de Chávez deve vencer eleições para o Congresso, mas pode perder maioria qualificada
Os venezuelanos compareceram em massa ontem às urnas para renovar o poder legislativo numa votação que serve como teste do apoio a Hugo Chávez para as eleições presidenciais de 2012. Até o final da noite de ontem, os resultados não haviam sido anunciados, mas pesquisas indicam que a base governista deve conservar a maioria das cadeiras do Parlamento, correndo o risco, porém, de perder a maioria qualificada na Casa, que é de dois terços. A lei do país proíbe divulgação de pesquisas de boca de urna.
Apesar de a Organização Civil Súmate ter recebido 1.014 denúncias de irregularidades, em sua maior parte, problemas nas máquinas de votação, o governo, oposição e observadores internacionais afirmaram que o processo eleitoral ocorreu em clima de tranquilidade. Nem a forte chuva que caiu sobre o país nos últimos dias, matando ao menos sete pessoas na capital, impediu os venezuelanos a exercer o voto. Estima-se que o índice de participação tenha chegado a 70%, um forte contraste com as últimas eleições legislativas do país, em 2005, boicotada pela posição, quando apenas 25% dos eleitores foram às urnas.
Embora pesquisas indiquem que chavistas e oposicionistas tenham os mesmos índices de intenções de voto, os candidatos aliados ao governo devem ser beneficiados por uma mudança na lei eleitoral que dá mais peso a certos setores do país. Os dois lados querem conquistar 2/3 das cadeiras, a fim de aprovar leis mais facilmente.
Chávez promete respeitar resultado
Vestindo um casaco com as cores da bandeira venezuelana, Hugo Chávez votou numa escola na periferia de Caracas onde anunciou que respeitará o resultado das eleições e exortou seus adversários a fazerem o mesmo. Ao longo do dia, o presidente convocou diversas vezes a população por meio de seu twitter a votar. Outros políticos venezuelanos seguiram o exemplo e fizeram o mesmo.
- Não é um dia de eleições, mas sim de lições. Todo o mundo que votar deve saber que seu voto será respeitado - disse Chávez ao chegar à escola na comunidade 23 de Enero, um reduto chavista.
O deputado e candidato de oposição pela Mesa de Unidade Democrática (MUD) no estado de Aragua, Ismael García, pediu que a população se mantenha atenta, "como soldados", para que o resultado seja respeitado.
- Tivemos uma jornada democrática, pacífica, mas com firmeza. Porque o povo não nos perdoaria se não atuarmos frente a qualquer ato de irresponsabilidade - declarou.
O presidente recusou a responder o que faria caso seu partido, o PSUV, perdesse a maioria qualificada no Parlamento, o que corresponderia a 110 das 165 cadeiras em jogo, e opinou sobre as eleições presidenciais brasileiras, nas quais já declarou seu apoio a Dilma Rousseff:
- Lula deixa a Presidência com 80% de apoio do povo brasileiro. Quem ganhar vai chegar com iguaizinhos 80% e continuar governando na mesma trilha de Lula, (...) pela libertação do povo - disse.
Antes do amanhecer, partidários de Chávez acordaram moradores de bairros populares de Caracas com fogos e megafones, conclamando: "Vamos votar para o presidente". Eles ainda tocaram Diana, o toque militar de despertar. Quase 18 milhões de pessoas estavam habilitadas a ir às urnas. Em alguns locais, eleitores enfrentaram filas de até três horas. Por razões de segurança, a fronteira com a Colômbia ficou fechada até o início da noite. O policiamento foi reforçado à espera do publicação do resultado.
No Colégio Andrés Bello, principal centro de votação de Caracas, onde 12.370 pessoas estavam inscritas, o clima era de tranquilidade.
- A eleição está muito bem organizada. Estou ligando para amigos, incentivando-os a votar - disse Margarita Aponte.
O vigilante Carlos Llamossas elogiou o processo, mas fez uma ressalva.
- Discordei ao encontrar no meu centro de votação caminhões tocando músicas favoráveis a Chávez e ao PSUV. É ilegal fazer campanha em dia de votação - declarou.
Com agências internacionais