Título: Lei da oferta e da procura funciona
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Fonte: O Globo, 26/09/2010, Opinião, p. 6

O mercado de trabalho é sempre um bom indicador do ritmo de atividade econômica. A geração de empregos formais em agosto chegou a quase dois milhões, número considerado elevado para esta época do ano.

Do mesmo modo, a taxa de desemprego apurada pelo IBGE em agosto ficou em 6,7% (o mais baixo desde 2002) nas seis principais regiões metropolitanas, o que indica um total de 1,6 milhão de pessoas sem trabalho nas áreas urbanas que concentram 20% da população do país.

Nos segmentos que estão produzindo a pleno vapor, como é o caso da indústria automobilística que este ano atingiu o seu recorde de empregados contratados, posição antes ocupada por 1991 esse aquecimento tem se refletido nas negociações salariais e acordos coletivos.

Aumentos salariais são possíveis quando a economia como um todo, alguns de seusegmentos ou mesmo empresas isoladamente obtêm ganhos expressivos de produtividade, seja por incorporação de avanços técnicos, melhora de gestão, mais eficiência da mão de obra, redução de custos e/ou saltos no volume produzido.

Tais ganhos de produtividade sem dúvida proporcionam mais rentabilidade aos negócios, de maneira que os empregadores podem transferir parte do retorno adicional de capital para os seus empregados, diretamente nos salários ou por benefícios indiretos sem que repasse para os preços (a famigerada indexação do passado, que realimentava a inflação).

Os metalúrgicos do ABC paulista fecharam há poucos dias um acordo que prevê um aumento salarial de 10,81%, índice que supera a inflação ocorrida e a projeção para os próximos doze meses na variação da média de preços ao consumidor. Trata-se de um ganho real expressivo.

O Congresso Nacional não precisou aprovar uma lei, ou o presidente da República teve de assinar um decreto para que isso viesse a ocorrer. Aliás, o efeito seria negativo. Aumentar salário por decreto costuma gerar desemprego.

Quando a economia cresce, os investimentos se multiplicam e as pessoas se qualificam profissionalmente para as oportunidades que vão surgindo no mercado (e para tal a educação, nos seus vários níveis, tem importância fundamental), e com isso os salários tendem a se valorizar. O custo mais elevado da mão de obra, por sua vez, estimula os setores pro-dutivos a buscar novos ganhos de produtividade, investindo em inovações, incluindo uma automação capaz de substituir tarefas humanas, exatamente para compensar a escassez de pessoal e salários em alta.

Não há nada de errado com isso. Assim é a dinâmica de uma economia em processo de crescimento, na qual intervenções do Estado só costumam atrapalhar. O Brasil ainda não atingiu o estágio em que faltam pessoas para trabalhar. Há muita gente desempregada, mal empregada ou que não tem os atributos necessários para ocupar as vagas oferecidas.

O desafio atual está, então, em aprimorar os instrumentos de qualificação profissional (e educacional) para que oportunidades não sejam desperdiçadas ou perdidas.

No mais, a lei mais antiga da economia, a da oferta e da procura, se encarregará de promover os ajustes no mercado, incluindo os padrões salariais.