Título: Reforço de caixa permitirá mais endividamento
Autor: Carneiro, Lucianne; Bôas, Bruno Villas
Fonte: O Globo, 25/09/2010, Economia, p. 35

Guido Mantega descarta novas capitalizações e diz que empresa buscará crédito no mercado

Ramona Ordoñez, Bruno Villas Bôas, Ronaldo D"Ercole e Wagner Gomes

RIO e SÃO PAULO. A maior operação de capitalização do planeta vai significar uma entrada de dinheiro novo de apenas cerca de R$45 bilhões, no caixa da Petrobras. Isso porque R$74,8 bilhões da capitalização fazem parte da cessão onerosa, a troca de títulos por quase cinco bilhões de barris de petróleo entre a União e a companhia. Os R$45 bilhões (cerca de US$25 bilhões) parecem pequenos se comparados ao plano de investimentos da estatal para o período 2010/14, de US$224 bilhões. Mas, segundo especialistas, darão um fôlego à estatal e permitirão que a empresa volte a captar mais recursos, via empréstimos ou nova capitalização, para financiar seus investimentos.

Do plano de investimentos de US$224 bilhões até 2014, só US$33 bilhões são para exploração do pré-sal. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, descartou ontem a possibilidade de novas capitalizações e disse que a empresa poderá agora contrair dívidas para cumprir seu programa de investimentos. A empresa já estava no limite de seu endividamento, de 40% de seu capital, o que levava à possibilidade de a empresa perder o grau de investimento, espécie de chancela dada por agências internacionais a empresas seguras para se investir.

- A consequência dessa capitalização é a tomada de crédito para que a Petrobras tenha condições de fazer seu plano de investimentos - disse Mantega. - Está viabilizado o plano de US$224 bilhões da Petrobras.

Segundo uma fonte da Petrobras, os cerca de R$43 bilhões que entrarão no caixa representam quase metade dos investimentos previstos para este ano, de R$80 bilhões. No primeiro semestre, a companhia já investiu R$38,1 bilhões.

Para Daniela Marques, sócia da Oren Investimentos, os novos recursos são importantes, principalmente porque reduzirão o nível de endividamento da empresa em relação ao seu patrimônio.

- O mais importante é que, com a operação, a Petrobras terá um fôlego nos próximos dois anos. E com isso a companhia poderá voltar a se endividar nos próximos cinco anos para reinvestir.

Segundo o banco UBS, que vinha divulgando relatórios bastante céticos sobre a capitalização, a operação "se mostrou um sucesso" e permitirá a redução da relação entre patrimônio e dívida líquida da empresa de 34% para 19%. O banco manteve, no entanto, recomendação de venda das ações e reduziu o potencial de ganhos com os papéis, considerando que a diluição dos minoritários foi maior do que o esperado.

Mantega ressaltou ainda que os investimentos da companhia foram desenhados de modo que o país não corra o risco de desindustrialização, processo conhecido como "doença holandesa", como aconteceu com outros países ricos em petróleo. Segundo ele, o Brasil está livre da "maldição do petróleo".

- É mais apropriado falar em bênção do petróleo, porque nós saberemos usar este petróleo para o desenvolvimento da indústria e geração de empregos.