Título: Cotista do FGTS-Petrobras teve pedido atendido
Autor: Carneiro, Lucianne; Bôas, Bruno Villas
Fonte: O Globo, 25/09/2010, Economia, p. 35

Investidores estavam na oferta prioritária. Quem aplicou em fundos de investimentos dos bancos só levou 45,77%

Os trabalhadores que tinham recursos aplicados nos FGTS-Petrobras conseguiram garantir as suas reservas para manter a sua fatia no capital da empresa com a nova capitalização. Os cerca de 89 mil cotistas podiam investir até 30% do saldo disponível em seu Fundo de Garantia desde que não elevassem sua participação na empresa. Quem ficou dentro desse limite teve seu pedido atendido.

Os pedidos dos acionistas diretos da empresa - que também faziam parte da oferta prioritária - foram atendidos em seus pedidos até o limite de 34% da participação que já possuíam na companhia. Os pedidos que excederam esses limites foram alocados nas sobras.

Já o investidor que fez reservas na oferta de varejo da Petrobras, aberta para quem não era acionista da empresa, foi atendido em apenas 45,77% de seu pedido. A taxa valeu para quem reservou ações diretamente ou via Fundos de Investimentos em Ações (FIA) Petrobras.

Operação foi bem-sucedida, dizem economistas

Para Rogério Freitas, sócio e gestor do fundo da Teórica Investimentos, o rateio pode ser considerado baixo. Segundo ele, operações com forte demanda costumam ter taxa mais baixa, de cerca de 15% das reservas. Foi assim na oferta pública inicial (IPO, na sigla em inglês) do Santander (8,14%). Mas o rateio ficou próximo ao das ofertas da Visanet (38,35%) e BM&F Bovespa (40,34%).

- Quando preço é justo e a demanda boa, de duas a três vezes o tamanho da oferta, o rateio fica menor. Quando investidor leva muito do que deseja, pode não ser um bom sinal - acrescenta Freitas.

Grande parte dos analistas classificou a oferta da Petrobras como um sucesso, a despeito de a empresa não ter vendido integralmente o lote adicional de 20% da oferta global. Pelos valores divulgados, o lote adicional vendido foi de apenas 8,57%.

- A oferta conseguiu uma demanda muito forte e arrecadou recursos para a exploração do pré-sal. Mesmo que com uma arquitetura sui generis e a magia dos R$74,8 bilhões da cessão onerosa, foi um sucesso - apontou um analista.

Ele se refere ao fato de que, dos R$120,36 bilhões da oferta de ações, R$74,8 bilhões são a participação da União na oferta, em pagamento pela cessão à estatal da exploração de 5 bilhões de barris na área do pré-sal. Ou seja, o valor que vai efetivamente para o caixa empresa é de cerca de R$45 bilhões.

Alguns especialistas lembraram, no entanto, que os rumores iniciais de que a demanda tinha sido de duas vezes o tamanho da oferta não se confirmaram. Daniella Marques, sócia da Oren Investimentos, explica que a demanda não superou a oferta em um terço porque as pessoas vinculadas (bancos coordenadores, por exemplo) foram integralmente atendidos. Pelas regras, se a demanda superasse um terço da oferta, eles não seriam integralmente atendidos.

- Existem nuances sobre a demanda porque o governo e investidores ligados ao governo ficaram com uma parte grande. Os critérios foram os da Petrobras. Mesmo assim, com certeza foi uma operação bem-sucedida - acrescentou Daniella.

Corretoras se preparam para movimento na segunda-feira

Para Freitas, a operação foi um sucesso para o governo, que conseguiu aumentar sua participação na Petrobras. E também para a companhia, que conseguiu recursos suficientes para pagar os 5 bilhões de barris da cessão onerosa e aliviar seu caixa para investimentos.

- Para os minoritários não foi um sucesso. Muitos tiveram sua participação reduzida. A Petrobras ficou maior, mas agora eles são menos donos da empresa.

Um outro analista que acompanha de perto a trajetória da Petrobras chegou a afirmar que "a oferta não teve brilho nenhum para o minoritário", mas reconhece que a empresa conseguiu levantar os recursos que esperava com a capitalização.

O mercado acredita que o volume de operações na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) pode mais do que dobrar na segunda-feira, quando as ações começam a ser negociadas. Isso pode provocar travamento ou lentidão dos sistemas eletrônicos de negociação. Em algumas empresas começa a ser preparado um esquema de guerra.

- Se isso ocorrer, podemos ter problemas com milhares de investidores. Mas estamos preparando uma megaoperação para que bancos e corretoras suportem o pico de negociação - disse Ricardo Juan, gerente da CMA, empresa de negociação eletrônica.

O temor é que investidores façam milhares de operações chamadas "flipagem", ou seja, vendam as ações compradas na oferta na própria segunda-feira. Assim, embolsariam a diferença do preço das ações compradas na oferta frente os papéis em circulação no mercado.