Título: Dilma: Daqui para a frente, tolerância
Autor: Lima, Maria; Guedes, João
Fonte: O Globo, 25/09/2010, O País, p. 16

Petista diz que Serra faz campanha de ódio; ela evita comentar pesquisas e defende liberdade de imprensa

PORTO ALEGRE (RS). A nove dias da eleição em que é a favorita a ganhar no primeiro turno, segundo as pesquisas, a presidenciável do PT, Dilma Rousseff, disse ontem que a palavra de ordem agora é tolerância. Voltou a criticar o que tem chamado de a "campanha do ódio", atribuída por ela ao adversário José Serra (PSDB), mas disse que a imprensa pode criticar à vontade.

Perguntada sobre os ataques do presidente Lula à imprensa e sobre a radicalização de centrais sindicais e movimentos sociais contra o que batizaram de "mídia golpista", Dilma disse que o Brasil vive "uma situação de plena democracia, uma das maiores democracias do mundo".

- Tenho uma palavra que sintetiza o clima daqui para a frente: tolerância. Pode criticar, prefiro múltiplas vozes críticas, a mais aguda, mais clara e explícita, do que o silêncio. Vivi no silêncio da ditadura, que cala as pessoas - disse Dilma, em coletiva, ao lado do candidato do PT ao governo do Rio Grande do Sul, o ex-ministro da Justiça Tarso Genro, antes do comício com Lula, em Porto Alegre.

Petista não arrisca falar de vitória no primeiro turno

Cautelosa - outra palavra de ordem na campanha -, Dilma não arriscou falar em vitória no primeiro turno, como ainda é a expectativa da campanha petista, apesar de queda de cinco pontos na diferença entre ela e demais adversários:

- Nessas questões, quanto menos expectativas é melhor. Temos que esperar as urnas. Porque, se não, vira loteria, e isso não é correto.

Os comerciais veiculados pela campanha do PSDB mostrando, em vídeos, os petistas como cães raivosos e fora do controle, foram duramente criticados pela candidata. Ela disse que foi criado nesta campanha um clima de ódio, mas, como em 2002, a esperança vai vencer novamente o medo.

Sem citar o nome do adversário Serra, a candidata acrescentou que esse tipo de coisa mancha "a si mesmo" e não é prova de bom comportamento na campanha. Dilma acusou o adversário de soberba, afirmando que capacidade de gestão quem prova são os fatos e que o governo Lula tem fatos para comparar com o governo passado, que vão além do "eu acho, eu penso".

- Naquela época ( 2002), dissemos que a esperança ia vencer o medo. Agora, o clima é o ódio. E cria esse ambiente. Ódio é como droga, quem entra não sai. Eu não entro no ódio. Desta vez, além de a esperança vencer o medo, vai vencer também o amor pelo Brasil, os 28 milhões que tiramos da pobreza, os 36 milhões que elevamos para classe média, os 14 milhões de carteira assinada, os 12 milhões de bolsa família. O Brasil quer seguir mudando - disse Dilma.

A candidata petista comentou ainda sobre a polêmica em torno da Lei da Ficha Limpa, dizendo que sua campanha é a favor, e afirmando que gostaria de ter visto uma decisão do Supremo Tribunal Federal sobre o tema:

- Só o Supremo pode desempatar. Eu gostaria que houvesse decisão. Eu respeito essa instituição. A decisão que eles tomaram deve ser respeitada, porque é a suprema corte do país, é fundamental para ter clima e tranqüilidade. Espero que decidam.

Amiga da ex-ministra Erenice Guerra, demitida da Casa Civil em função de escândalos de tráfico de influência e nepotismo, Dilma tentou minimizar as considerações feitas pelo presidente Lula sobre seu braço direito, em entrevista ao site "Terra". Lula disse que se engana quem acha que chega no governo e vai "se servir" e que Erenice jogou fora a oportunidade de ser uma grande funcionária pública.

- Acho que o presidente está fazendo avaliação não sobre qualquer situação. Acho que fez uma avaliação sobre a contratação de parentes e amigos, com o que nós não concordamos - disse.

* Enviada especial