Título: Ainda sob ameaça, Roriz desiste da candidatura e lança a mulher
Autor: Brígido, Carolina; Braga, Isabel
Fonte: O Globo, 25/09/2010, O País, p. 3

Ex-candidato temia ter diploma cassado mais tarde, diz assessor

BRASÍLIA. O candidato a governador do Distrito Federal Joaquim Roriz (PSC) desistiu ontem de disputar a eleição e indicou a mulher, Weslian Roriz, também filiada ao PSC, para substitui-lo na chapa. A decisão foi tomada de manhã, horas depois de o Supremo Tribunal Federal ter se dividido ao julgar o recurso dele contra a Lei da Ficha Limpa. Com cinco ministros a favor e cinco contra, o Supremo suspendeu a sessão já de madrugada, sem decidir se Roriz poderia ter registro de candidato. Ao lado da mulher, Roriz disse que foi vítima de "brutal injustiça" e que abandonou a eleição porque não tinha alternativa. E fez críticas aos ministros do STF que votaram contra ele.

Segundo assessores, Roriz avaliou que não tinha como manter a candidatura com a indefinição provocada pelo impasse no STF. Sem a garantia de vitória no Supremo, Roriz, caso vencesse a eleição contra Agnelo Queiroz (PT), ainda poderia ter seu diploma cassado.

- Ele avaliou que a candidatura ficaria pendurada - comentou um assessor. Roriz, porém, está atrás nas pesquisas.

A votação no STF mostrou que, se os ministros estão divididos sobre a validade da Lei da Ficha Limpa este ano, a maioria, no entanto, considera que é legal barrar a candidatura de um político que tenha renunciado ao cargo para fugir de um processo de decoro parlamentar. Sete dos dez ministros entenderam que não havia problema na lei ao barrar a candidatura de quem renunciou para fugir da cassação, caso de Roriz.

Lançamento de mulher já era tido como plano B

Roriz teve o registro da candidatura cassado pela Lei da Ficha Limpa porque renunciou ao mandato de senador, em 2007, para evitar um processo de cassação. Só três ministros - Celso de Mello, Cezar Peluso e Marco Aurélio Mello - ponderaram que a lei não teria validade para fatos anteriores a ela.

Na época, ele foi flagrado pela Polícia Civil do DF em conversa telefônica negociando a divisão de R$2,2 milhões com o ex-presidente do BRB (Banco de Brasília) Tarcísio Franklin de Moura. A partilha do dinheiro ocorreria no escritório do empresário Nenê Constantino, presidente do Conselho de Administração da Gol.

Ontem, Roriz usou o horário eleitoral para anunciar a desistência. Foi lido um texto no qual o ex-governador criticou os ministros do STF: "Minha ficha é limpa e minha consciência mais limpa do que a dos que me acusam sem provas".

Segundo aliados, Roriz já tinha pronto o plano de lançar a candidatura da mulher para o caso de derrota no STF. Mas essa era uma opção que ele apenas contava como um plano B. Roriz acreditava que, havendo empate na votação no STF, o presidente do tribunal, Cezar Peluso, desempataria a favor dele.

O TSE não terá tempo, porém, para trocar o nome de Roriz nas urnas pelo da mulher dele. Para votar nela, os eleitores terão de apertar o número e o nome dele.