Título: Mantega diz que há guerra cambial no mundo
Autor: D´Ercole, Ronaldo
Fonte: O Globo, 28/09/2010, Economia, p. 27

Ministro acusa países ricos de desvalorizarem artificialmente suas moedas para ganhar competitividade

SÃO PAULO. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse ontem que há uma guerra cambial em curso na economia mundial, que prejudica países como o Brasil, com regime de câmbio flutuante e um mercado interno em forte expansão. O ministro disse que o câmbio se tornou um importante instrumento para a competitividade dos países mais avançados, cujas economias continuam patinando. A exemplo dos asiáticos, como a China, que há 20 anos faz isso, observou Mantega, desvalorizar as moedas locais tornou-se uma estratégia explícita de grandes economias, como EUA, União Europeia (UE) e Japão. E essa vantagem cambial, obtida a partir de artificialismos, é motivo de preocupação e deve ser combatida pelo governo, argumenta Mantega.

A crise levou os países avançados a adotar políticas monetárias expansionistas, frouxas, para estimular suas economias, o que leva à desvalorização das moedas. Então, o que era uma estratégia dos países asiáticos, de manter as moedas desvalorizadas, hoje é usado pelos países avançados disse Mantega em seminário promovido pela Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp). Vivemos hoje uma guerra cambial, porque o câmbio hoje é importante para determinar a competitividade dos produtos. A desvalorização das moedas é, a meu ver, uma estratégia explícita.

A declaração do ministro repercutiu na imprensa internacional, sendo mencionada em jornais especializados, como o Financial Times, que colocou o assunto na manchete do seu site ontem. O jornal britânico afirmou que Mantega disse o que muitos pensam, mas poucos políticos têm coragem de dizer: Sua afirmação de que há uma guerra cambial em curso ocorre após a escalada de intervenções competitivas nos mercados de câmbio internacionais, com as potências se envolvendo com pesada artilharia, diz um dos artigos do Financial Times. O jornal acrescenta que esse movimento de desvalorização artificial do câmbio poderá inflamar tensões internacionais.

Mantega diz que não vai taxar investimentos externos No seminário da Fiesp, Mantega voltou a rechaçar a avaliação de alguns economistas de que a valorização excessiva do real estaria levando a uma desindustrialização do país. Ele lembrou que a participação da produção industrial no PIB brasileiro, de 17%, está em linha com a média mundial. Mas assegurou aos empresários que o governo não permitirá uma sobrevalorização excessiva do real.

Não é justo que nós conseguimos manter o mercado interno elevado e ele seja aproveitado pelos outros países.

Temos que preservar para o Brasil (as indústrias brasileiras) o mercado interno.

O ministro disse que o Banco Central (BC) e o Tesouro estão comprando volumes bem maiores de dólares. As reservas internacionais estão próximas de US$ 270 bilhões.

E continuaremos comprando, não deixando sobrar dólares no mercado.

Ele disse ainda que o governo vai esperar até que haja uma acomodação dos efeitos da capitalização da Petrobras, que trouxe um maior fluxo de recursos externos para o país, pressionando o câmbio: O governo não deixará haver uma sobrevalorização excessiva do real e não faltam instrumentos, arsenal para isso.

Sua expectativa é de que haverá uma calmaria, com menos pressão sobre o câmbio passada a capitalização. O déficit em conta corrente, que deve chegar a US$ 48 bilhões este ano, também deve ajudar a acomodar o câmbio mais adiante, avaliou o ministro.

Mantega descartou elevar novamente a tributação sobre investimentos externos no mercado financeiro. Para o ministro, a cobrança de IOF para aplicações de estrangeiros em renda fixa e Bolsa, adotada em outubro do ano passado, teve certo resultado positivo ao reduzir a volatilidade do câmbio.

Não pretendemos taxar o investimento estrangeiro.

Mudanças na legislação e a adoção de políticas antidumping mais duras, entretanto, estão na agenda imediata do governo, avisou Mantega.

Temos que ser mais duros na política antidumping, para conter a concorrência desleal disse Mantega.

(*) Com agências internacionais