Título: Babá diz que menina foi vítima de maus-tratos
Autor: Araújo, Vera
Fonte: O Globo, 28/09/2010, Rio, p. 19

Ex-empregada conta que viu criança suja e amarrada com fita adesiva; pai teria alegado seguir orientação médica

O depoimento de uma babá pode complicar a situação do técnico judiciário André Rodrigues Martins, pai de Joanna Cardoso Marcenal Marins, de 5 anos, que morreu no mês passado. De acordo com a mulher, contratada por André para cuidar de Joanna, em seu primeiro dia de trabalho ela se deparou com uma cena de horror. Segundo a babá, a criança estava no canto de um quarto, ¿deitada no chão, amarrada numa fita-crepe nos pés e nas mãos e toda suja de xixi e cocô¿.

Ela contou que, diante do seu espanto, o técnico judiciário disse que a menina estava ¿daquele jeito¿ por ter sofrido uma convulsão no dia anterior. Ele teria alegado ainda que seguia ¿recomendação médica¿. A empregada contou também, em depoimento à delegada interina da Delegacia da Criança e Adolescente Vítima, Gisele Brasil Vilarinho Faro, que Joanna não estava de fralda, apenas de calcinha e camiseta regata. A babá teria se oferecido para limpar a criança e colocá-la na cama, mas o pai teria argumentado que a menina sujaria tudo e sua mulher, madrasta de Joanna, Vanessa Maia, ¿não iria gostar¿. André teria dito que a filha era ¿especial¿.

Segundo a babá, André saiu com as outras duas filhas e, depois de duas horas, retornou e deu um banho em Joanna. A empregada disse ter visto que havia um tapete no quarto onde a menina dormia que estava sujo de fezes.

No dia seguinte, a babá viu colchonetes espalhados no quarto do casal, onde as meninas dormiam. Percebeu que no closet havia um outro colchonete, todo sujo, e deduziu ser o local onde Joanna dormia.

A empregada disse que foi contratada para cuidar de Joanna e das outras duas filhas de André em 13 de julho, quando foi entrevistada por Vanessa. No dia seguinte, conheceu as crianças. Foi aí que ela se deparou com o quadro de maus-tratos.

Comovida, a babá contou que se aproximou de Joanna e lhe perguntou o que estava acontecendo. A criança respondeu que não podia ¿abrir os olhos, porque estavam ardendo¿. Depois disso, Joanna não teria conseguido falar mais nada, apenas gemer. Nos demais dias em que trabalhou para a família, a empregada percebeu tristeza no olhar da menina e lhe perguntou o motivo. A criança teria dito que estava com saudades da avó materna. No dia 19 de julho, numa segunda-feira, depois de folgar no domingo, a babá soube que a criança havia sido internada.