Título: PT entre as urnas e a cartilha de Lula
Autor: Brito, Ricardo; Lima, Daniela
Fonte: Correio Braziliense, 07/07/2009, Política, p. 3

Serys, petista e candidata à reeleição no Senado

Os senadores do PT sabem que custará caro o palanque da ministra Dilma Rousseff, candidata do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas próximas eleições. Os 12 parlamentares da bancada equilibram-se no fio da navalha desde a última semana. De um lado, pesa o apoio incondicional exigido por Lula para manter no cargo o acossado presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). O cacique peemedebista é um dos fiadores da aliança entre seu partido e os petistas para o projeto Dilma-2010. Do outro, o risco de a exigência de Lula pesar individualmente no voto do eleitorado nos estados, já que nove deles (75% da bancada) deve concorrer à reeleição. É com base nessas variáveis que o líder do PT, Aloizio Mercadante (SP), marcou reunião da bancada hoje para discutir qual posicionamento da bancada no caso Sarney.

¿É um preço alto para o partido (apoiar Sarney), mas é um preço ainda mais alto para a sociedade perder as próximas eleições presidenciais (com Dilma)¿, afirmou a senadora Serys Slhessarenko, candidata à reeleição em Mato Grosso. ¿O partido tem que ter coragem para garantir as prioridades¿, afirma Fátima Cleide, que também pedirá votos em Rondônia em 2010. Os petistas sabem que importante fatia do eleitorado é de opinião. E que o apoio a Sarney na crise do Senado pode respingar nos projetos individuais. ¿Com certeza é um eleitorado de opinião, mas nós não temos uma posição fechada¿, ameniza Fátima Cleide.

Entre a ordem do Planalto e a necessidade de manter o fiel eleitorado, os senadores petistas estão em cima do muro. Na tarde de ontem, por exemplo, a tradicional reunião da bancada às terças-feiras, chegou a ser desmarcada por assessores do líder do PT. De São Paulo, Mercadante estava com receio da cobrança por um posicionamento oficial da bancada. No início da tarde, uma assessora da liderança entrou em contato com os liderados cancelando o encontro.

No fim da tarde, contudo, assessores de Mercadante fizeram nova bateria de ligações, confirmando a reunião. ¿Sou uma pessoa de partido e tenho responsabilidade de ser governo¿, afirmou o senador João Pedro (AM). ¿Não é só o Sarney em si. Se ele sair e vier outro senador, a crise acaba?¿, questionou o parlamentar.

A divisão na bancada é explícita. No início da semana passada, o próprio líder do PT pediu, informalmente, o afastamento temporário do presidente do Senado. A resposta de Sarney veio depois pela boca de Lula, que cobrou apoio incondicional ao peemedebista. Resultado: o PT ainda não tem uma posição pública, embora a pressão interna na bancada tenha aumentado no último fim de semana. Primeiro, o senador Tião Viana (PT-AC) criticou diretamente a postura de Lula na crise do Senado. Ontem, foi a vez da ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva (PT-AC) reafirmar sua posição pela licença de Sarney.