Título: Em busca dos bens de Duda
Autor: Brito, Ricardo
Fonte: Correio Braziliense, 07/07/2009, Política, p. 4

MP pede ressarcimento da agência do publicitário, que teria recebido honorários ao terceirizar serviços

Duda Mendonça, o marqueteiro vitorioso de Lula, é alvo do Ministério Público

Com os bens bloqueados desde junho de 2006, o publicitário Duda Mendonça corre o risco de sofrer um novo revés na Justiça esta semana. O Ministério Público Federal em Brasília entrou com ação em que cobra do publicitário, da sócia dele, Zilmar Fernandes, e da empresa Duda Mendonça & Associados a devolução aos cofres públicos de R$ 757,8 mil. Os recursos referem-se a honorários recebidos pela agência do marqueteiro após ela ter terceirizado parte dos serviços da conta da publicidade da Presidência da República, no início do governo Lula. A prática é proibida pelo Tribunal de Contas da União. O juiz Alexandre Vidigal de Oliveira, da 20ª Vara Federal, deve decidir nos próximos dias se concede um segundo congelamento judicial dos bens dos sócios e da agência.

A ação proposta pela procuradora Raquel Branquinho diz respeito ao contrato da Secretaria de Comunicação (Secom) firmado em 2003, logo após Duda ter feito a vitoriosa campanha presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva. A Duda Mendonça & Associados e mais duas empresas dividiram a conta, no valor de R$ 150 milhões anuais. Desde 2001, o TCU vinha alertando as agências que trabalhavam para a Secom de que não podiam usar o contrato para terceirizar serviços. Mesmo assim, a empresa de Duda atuou ¿como mera intermediária na contratação de empresas¿, recebendo honorários das empresas subcontratadas.

Um dos principais marqueteiros políticos do país, Duda ficou nacionalmente conhecido em agosto de 2005, no auge do escândalo do mensalão. Em depoimento à CPI dos Correios, o publicitário admitiu ter recebido no exterior R$ 10 milhões da campanha de Lula, o que levou a oposição a cogitar um pedido de impeachment do presidente. Por causa das revelações, Duda e a sócia são réus no processo do mensalão no Supremo Tribunal Federal (STF) por evasão de divisas e lavagem de dinheiro. Os bens da dupla e da agência estão bloqueados há três anos, por decisão do STF. Estimado pelo Ministério Público em R$ 30 milhões, esse primeiro bloqueio tenta garantir o pagamento de impostos devidos por eles em caso de condenação pelo Supremo.

A defesa deles contesta, além do valor, a necessidade da manutenção do bloqueio. ¿O Duda já pagou os impostos, por isso a justificativa não existe mais¿, afirma o advogado Frederico Figueiredo, um dos defensores. Os advogados pediram, mês passado, novo desbloqueio, ainda não julgado pelo ministro Joaquim Barbosa, relator do caso. O outro advogado de Duda e de Zilmar, Tales Castelo Branco, disse desconhecer detalhes da nova ação contra os dois. ¿O Duda ainda não foi intimado¿, disse. Ele não quis tecer comentários sobre o processo.

Personagem da notícia O céu e o inferno

O marqueteiro Duda Mendonça ensaia, aos poucos, uma volta à ribalta do marketing político no país. O publicitário conheceu o céu e o inferno na esteira da ascensão de Luiz Inácio Lula da Silva ao poder. Criou em 2002 o mote ¿Lulinha Paz e Amor¿, levando o petista ao Palácio do Planalto com um discurso e ¿ com o toque de Duda ¿ uma imagem light. O publicitário ganhou a conta da Presidência da República. Em agosto de 2005, prestou revelador depoimento numa CPI do Congresso. Diante das câmeras, confessou ter recebido no exterior mais de R$ 10 milhões da campanha presidencial de Lula.

Depois de se distanciar dos políticos, resolveu voltar nas eleições municipais de 2008. Com nova roupagem, montou escritório de consultoria. Também mudou de hobby. Deixou a rinha de galos, diversão pela qual foi detido em 2004, para se dedicar à vaquejada.