Título: Abismo entre saneamento e economia
Autor:
Fonte: O Globo, 01/10/2010, Opinião, p. 6

Com base em dados oficiais sobre saúde, educação, emprego e renda, a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) resolveu acompanhar, com índice próprio, a evolução do desenvolvimento dos municípios, ano a ano. O índice mais recente se refere a 2007, mas mesmo assim serve como bom termômetro, pois permite comparações.

Em síntese, o Índice Firjan mostra que o Brasil tem ainda um número reduzido (4%) de 226 municípios que podiam ser classificados como de alto desenvolvimento. E apenas dois estados (São Paulo e Paraná) em 2007 estariam, como um todo, nessa categoria.

Pouco mais da metade dos 5.564 municípios (51%) se situava na faixa do desenvolvimento moderado e regular. Já os municípios carentes (2.503) ainda representavam 45% do total, com maior concentração nas regiões Norte e Nordeste. O Centro-Oeste se aproximou do Sul e do Sudeste, deixando de figurar no mapa das áreas mais atrasadas do país.

Nenhuma capital apareceu na lista dos dez municípios mais bem situados na pesquisa. Curitiba, a primeira delas a entrar na lista, ficou na quadragésima sétima posição no ranking nacional

O Estado do Rio de Janeiro só esteve presente nessa relação a partir da décima primeira posição, com o município de Macaé. Embora como um todo o RJ não tenha sido classificado entre os estados de alto desenvolvimento, foi a unidade da federação que relativamente mais municípios (10%) tinha nessa categoria.

Uma característica dos municípios carentes é a falta de saneamento básico. Nesses municípios, sem atendimento médico e água tratada, vivem 40 milhões de brasileiros. A dura realidade não se restringiu aos distantes bolsões de pobreza do país, pois indicadores de alguns municípios da Baixada Fluminense não se diferenciaram muito dos encontrados no Norte ou no Nordeste.

A situação econômica da região metropolitana do Rio começa a se transformar com grandes empreendimentos industriais e de logística. No entanto, há muito o que se avançar nas áreas de educação e saúde, especialmente no que se refere ao saneamento básico.

O Estado do Rio tem apenas 30% dos seus esgotos tratados. Existe um pacto de saneamento que tem como meta elevar esse percentual para 80% em dez anos (o Rio capital poderia chegar a 100% antes disso). É uma meta factível, desde que os investimentos necessários tenham recursos assegurados. A expectativa inicial era que tais investimentos seriam da ordem de R$8 bilhões, mas a prática demonstra que se precisará do dobro desse valor.

O saneamento básico é capaz de proporcionar um salto na qualidade de vida dos cidadãos, seja em termos de saúde ou do meio ambiente. O país está tremendamente atrasado nesse tipo de infraestrutura e não tem mais tempo a perder, inclusive porque não faz qualquer sentido existir um abismo entre o saneamento básico e o desenvolvimento econômico.