Título: Empate com cada um no seu quadrado
Autor: Duarte, Alessandra
Fonte: O Globo, 01/10/2010, O País, p. 8A

Último debate entre presidenciáveis antes de domingo teve propostas e atitudes previsíveis, dizem analistas

SERRA E Dilma antes do início do debate na Globo: ausência de assuntos polêmicos era esperada, segundo avaliação de cientistas políticos

PLÍNIO E Serra: candidato do PSOL colocou ¿todos no mesmo saco¿

DILMA E Marina: verde tentou polarizar para ir para o segundo turno

Uma campanha de escândalos e ações na Justiça terminou num debate sem polêmicas. Para cientistas políticos que analisaram, a pedido do GLOBO, o último debate entre presidenciáveis antes do dia 3 de outubro, o confronto terminou em empate de propostas já conhecidas e de comportamento previsível por parte dos candidatos, que não quiseram se expor. Um exemplo disso foi o fato de o debate chegar ao quarto bloco sem que o tucano José Serra, o segundo nas pesquisas, perguntasse diretamente para a petista Dilma Rousseff, a primeira.

Um embate de escolhas previsíveis foi o que chamou a atenção do cientista político Cesar Romero Jacob, professor da PUC-Rio:

¿ Cada um fez o papel esperado para um início de debate. Marina (Silva, do PV), que está querendo ir para o segundo turno, polarizou com a Dilma. A Dilma, que não quer polarizar nem com Serra nem com Marina, escolheu perguntar ao Plínio. Ele, que tem a bandeira mais radical, foi polarizar com quem seria o, entre aspas, neoliberal, que é o Serra. E só sobrou para o Serra perguntar à Marina. Além disso, o primeiro bloco, com temas já determinados, também ajuda a ter respostas mais fáceis para os candidatos. Debate é que nem no esporte, em jogo de futebol; no começo, ficam todos estudando o clima e os adversários.

Para Marcus Figueiredo, cientista político do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Uerj, o formato do debate ajudou a falta de confronto:

¿ O formato do debate foi: quatro pessoas criando perguntas para fazer propaganda do que cada um está desejando falar. Não houve troca entre os candidatos. A gente pode dizer que cada um ficou no seu lado, no seu quadrado. Cada um ficou respondendo à pergunta do outro aproveitando para puxar para sua propaganda. O Serra, por exemplo, qualquer que fosse o tema determinado ou escolhido, puxava o tema para São Paulo, para falar do seu governo.

Já Plínio respondia sempre ¿colocando todos no mesmo saco¿. Marina e Serra aproveitavam as perguntas para fustigar Dilma, acrescenta Figueiredo, mesmo quando perguntando entre eles. Segundo o cientista político, aproveitar para falar de si é algo esperado num debate, mas, em excesso, fez com que o confronto de ideias ficasse de lado. Exemplo disso, diz Figueiredo, foi quanto ao tema do mercado informal de trabalho:

¿ Marina perguntou sobre os informais à Dilma, que respondeu falando que o governo fez o país crescer, e aí vieram os empregos. Mas não falou o que fazer com os informais.

A ausência de assuntos polêmicos, porém, também era esperado num debate decisivo, completa Figueiredo:

¿ Isso seria um desastre, porque a Dilma poderia ser beneficiada pelo papel de vítima que o eleitor poderia ver nela.

No entanto, para Paulo Baía, cientista político da UFRJ, os adversários da petista poderiam ter posto em discussão a questão ética e da corrupção:

¿ Se falassem de ética, corrupção, o eleitor poderia se emocionar. Esse debate foi caracterizado pela falta de emoção. Foi uma esgrima entre Serra e Marina, que ao mesmo tempo, ao fazerem isso, jogavam dardos contra Dilma. Mas aí deram escada para Dilma. Sabe por quê? Ninguém escorregou, os projetos apresentados não eram novidade, a Marina falando que as propostas dos outros eram pontuais, e Dilma e Serra dando propostas pontuais que não diferiam tanto. Houve um empate tecnocrático. E, num empate, o beneficiado é quem está na frente, que é a Dilma.