Título: FGV vê fuga de cérebros do país
Autor: Oswald, Vivian; Beck, Martha
Fonte: O Globo, 03/10/2010, Economia, p. 49

Brasileiros são mais qualificados que mexicanos e americanos

BRASÍLIA. Um seleto grupo de brasileiros parte para o exterior atraído por melhores oportunidades, segundo estudo do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getulio Vargas (FGV) que compara os imigrantes do Brasil e do México nos EUA com a população americana. Os dados têm por base o censo dos EUA. Dos brasileiros que estão lá, 8,84% completaram ao menos um mestrado, superando mexicanos (1,1%) e americanos (6,28%).

¿ Outra evidência da fuga de cérebros para os EUA está na presença relativa de bacharéis: entre os brasileiros, 22,05%, contra 12,73% dos americanos lá ¿ diz Marcelo Neri, chefe do centro da FGV.

O resultado é que, enquanto 37,59% dos americanos têm uma renda familiar superior a US$ 50 mil anuais, 25,57% dos brasileiros têm o mesmo rendimento, quase o dobro da proporção de mexicanos (13%). O perfil dos brasileiros que emigram para os EUA parece não ter mudado muito nos últimos anos. Segundo Neri, a maioria (56,1%) é de mulheres, contrariando o tradicional perfil masculino.

Se antes poucos eram jovens (34,5% tinham menos de 30 anos), dos que partiram nos últimos sete anos 54,6% estavam nessa faixa etária. E mais da metade é casada.

O estudo revela ainda que 65,13% dos imigrantes brasileiros trabalham, contra 57,97% dos mexicanos. A carga horária é ligeiramente maior entre os brasileiros (40,2 horas semanais) quando comparada à de mexicanos (39,9) e americanos (39,6). As principais atividades exercidas por brasileiros nos EUA são limpeza e manutenção (17,37%), preparação e serviço de alimentos (12,41%) e vendas (15,42%).

O acesso à internet nos domicílios é maior entre os imigrantes brasileiros (67,09%) que entre os mexicanos (23,93%) e os americanos (62,16%). A taxa de inclusão digital dos brasileiros lá é quase cinco vezes maior que a dos brasileiros aqui, o que indica as facilidades que encontram lá fora, segundo Neri.

A América Latina e o Caribe compõem a região com maior proporção de profissionais qualificados vivendo no mundo desenvolvido ¿ um fenômeno que se acentuou nas duas últimas décadas, segundo relatório do Sistema Econômico Latino-americano e do Caribe (Sela), com sede em Caracas.

De acordo com o estudo, o total de latino-americanos qualificados que vivem nos países da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) passou de 1,92 milhão em 1990 para 4,9 milhões em 2007, alta de 155%.

Isso equivale a dizer que 11,3% da mão de obra qualificada da região viviam em um país rico em 2007.

(Vivian Oswald e Martha Beck)