Título: Hoje, 20 governadores podem se eleger
Autor: Souza, André de; Braga, Isabel
Fonte: O Globo, 03/10/2010, O País, p. 34

Entre os colégios eleitorais onde há chance de decisão no 2o- turno estão Paraná, Santa Catarina e Goiás

BRASÍLIA. Na disputa pelos governos estaduais, pelo menos 13 governadores devem ser eleitos hoje. Considerando que há divergências entre os resultados dos dois principais institutos de pesquisas, Ibope e Datafolha, a definição em primeiro turno pode ocorrer em até 18 estados e no Distrito Federal.

Dos três maiores colégios eleitorais ¿ São Paulo, Minas e Rio ¿ há possibilidade de segundo turno, de acordo com o Ibope, apenas em São Paulo, onde se reduziu a vantagem do tucano Geraldo Alckmin sobre o petista Aloizio Mercadante.

Se confirmadas as pesquisas, mais de 113 milhões de eleitores conhecerão hoje seus novos governadores. A previsão é de que a disputa irá para o segundo turno, certamente, em oito estados, que somam 22,3 milhões de eleitores: Alagoas, Amapá, Piauí, Rondônia, Goiás, Santa Catarina, Paraná e Roraima.

Além de São Paulo, os resultados apresentados ontem pelo Ibope e pela Datafolha divergem no Distrito Federal e no Rio Grande do Sul. Nos dois últimos casos, o Datafolha aponta vitória dos petistas Agnelo Queiroz e Tarso Genro, respectivamente, já no primeiro turno. E o Ibope indica possibilidade de segundo turno.

Além da definição já em primeiro turno na maioria dos estados, outra marca desta eleição é o desejo pela continuidade.

Em 16 estados ¿ com 102,2 milhões de eleitores ou 75,3% do total ¿, são favoritos os governadores que disputam a reeleição ou o candidato apoiado pelo governo estadual.

Outros 20,6 milhões de eleitores, ou 15,1% do total, moram em seis estados onde a oposição local lidera.

Quando se leva em conta a eleição presidencial, candidatos que apoiam a petista Dilma Rousseff são os favoritos na disputa em 14 estados. A oposição, que apoia o tucano José Serra, lidera em seis, incluindo os dois maiores colégios eleitorais, São Paulo e Minas.

No entanto, quando se olha o tamanho do eleitorado nos estados, a vantagem de Dilma cai, graças principalmente a São Paulo e Minas, que, sozinhos, concentram um terço dos eleitores brasileiros.

Nos estados, voto de continuidade

Na opinião do cientista político Malco Camargo, professor da PUC-Minas, o governo local predomina sobre o federal quando se trata de influenciar o resultado das eleições estaduais.

¿ A onda vermelha não é o mais importante desta eleição.

O que vai predominar é a continuação do status quo regional.

A hipótese de que Dilma ganharia com uma avalanche de votos e que a oposição sairia completamente enfraquecida não está sendo confirmada segundo as últimas pesquisas.

No caso de Minas, ele destaca que o voto Dilmasia ¿ Antonio Anastasia (PSDB) para governador e Dilma Rousseff (PT) para presidente ¿ sintetiza o desejo de continuísmo tanto no plano estadual quanto no federal.

¿ O voto Dilmasia não foi uma escolha das elites políticas, mas fruto da escolha do eleitor pela continuidade.

Já para o Senado, segundo os últimos levantamentos do Ibope e do Datafolha, 40 candidatos aparecem na liderança pelas 54 cadeiras em disputa.

Quando essas 40 vagas são somadas aos 27 senadores que têm mandato por mais quatro anos, as legendas governistas se sobressaem. O PMDB ¿ excluindo-se os dissidentes ¿ deve ficar com pelo menos 14 senadores, e o PT, com 14.

Senadores de oposição e de postura independente ¿ como Cristovam Buarque (PDTDF) e Ana Amélia (PP-RS) ¿ devem chegar a pelo menos 20, contra 47 governistas.

Para as outras 14 vagas ainda indefinidas, as pesquisas apontam empate técnico. Em alguns estados, inclusive, não é possível determinar sequer um favorito.

Em outros estados, a disputa embolou. No Ceará, onde a reeleição de Tasso Jereissati (PSDB) era tida como certa, os adversários Eunício Oliveira (PMDB) e José Pimentel (PT) ameaçam sua reeleição. Eunício aparece, segundo a Datafolha de ontem, com 46%, Tasso, com 43%, e Pimentel, 41%.

Em alguns estados com empate técnico, entretanto, é possível traçar tendências. É o caso do Amazonas, onde, de acordo com o Ibope, Vanessa Graziotin (PCdoB) passou de 29% em agosto para 39% no mês seguinte, e Arthur Virgílio (PSDB) caiu de 51% para 34%.

O presidente Lula já manifestou diversas vezes que deseja entregar para Dilma um Senado menos oposicionista.

Durante seu governo, a Casa lhe trouxe algumas dores de cabeça, como a não prorrogação da CPMF em 2007.

Para o cientista político João Paulo Peixoto, da Universidade de Brasília, o encolhimento da oposição se deve em parte ao peso do presidente Lula. Mas o professor relativizou sua importância.

¿ Por que o DEM e o PSDB, principalmente, murcharam nestes oito anos? Podemos atribuir isso àquela característica, que não é positiva, da política brasileira, em que os políticos não sabem viver na oposição -diz Peixoto.