Título: Casos nebulosos ainda sem solução
Autor: Carvalho, Jailton de
Fonte: O Globo, 03/10/2010, O País, p. 23

BRASÍLIA. Os eleitores vão às urnas hoje sem saber o desfecho de dois escândalos que estiveram no centro do embate entre tucanos e petistas. Até agora, a Polícia Federal não tem respostas conclusivas sobre a quebra do sigilo fiscal do vice-presidente do PSDB, Eduardo Jorge Caldas, de Verônica Serra, filha do candidato tucano à Presidência, José Serra, e de outras pessoas, na Receita Federal em São Paulo. A PF também está longe de elucidar o caso em que Israel Guerra, filho da ex-ministro da Casa Civil Erenice Guerra, é acusado de tráfico de influência: ¿ Não trabalhamos com o calendário eleitoral. E também não investigamos pessoas, investigamos fatos ¿ diz o diretor de Inteligência da PF, David Salem.

Segundo ele, a polícia não pode antecipar conclusões sem provas concretas, só para satisfazer interesses políticos.

Salem argumenta que as investigações são complexas e que a PF é obrigada a seguir regras e respeitar direitos, mesmo que haja demora na investigação.

Mas o diretor diz que a PF está perto de elucidar o caso da quebra de sigilo.

A partir do levantamento inicial da Receita Federal, a equipe do delegado Hugo Uruguai chegou ao advogado Marcel Schinzari, apontado como a pessoa que encomendou cópias de declarações fiscais ao contador Antônio Carlos Attela Ferreira, que usou uma procuração falsa em nome de Verônica. A partir daí, a PF espera chegar ao principal interessado na quebra de sigilo. À PF, Schinzari negou envolvimento, mas a polícia não se convenceu e espera esclarecer o caso nos próximos dias.

O escândalo da quebra de sigilo fiscal veio a público em junho.

O tucano acusou integrantes da précampanha da candidata petista Dilma Rousseff de envolvimento, com base em dados que lhe foram passadas por um jornalista ¿ que, por sua vez, teria obtido informações sobre o vazamento de dados fiscais por meio de um integrante da campanha petista.

Depois, surgiu novo caso rumoroso.

Israel Guerra, filho de Erenice ¿ ex-braço-direito de Dilma na Casa Civil ¿ foi acusado de tráfico de influência. As denúncias derrubaram Erenice.

Semana passada, o empresário Fábio Baracat disse à PF que pagou cerca de R$ 200 mil pelos serviços de Israel, para que fosse acelerada a renovação da Master Top Linhas Aéreas, junto à Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). A empresa que teria operado o suposto lobby é a Capital Assessoria e Consultoria Empresarial, de Saulo Guerra, irmão de Israel. Os dois só vão depor terça-feira. E Vinícius Castro, ex-funcionário da Casa Civil, também envolvido no esquema de lobby, depôs à PF, mas recorreu ao direito de ficar calado.

Tráfico de influência

EX-MINISTRA da Casa Civil, Erenice Guerra deixou o cargo após seu filho Israel Guerra ser acusado de tráfico de influência. A Capital Consultoria e Assessoria, de Saulo Guerra, irmão de Israel, teria conseguido renovar a concessão da Master Top Airlines junto à Anac, onde Israel trabalhara. Depois da renovação, a MTA fechou contrato, sem licitação, de R$ 19,6 milhões, com os Correios.

Financiamento

CONSULTOR DA EDRB, Rubnei Quícoli acusou Israel Guerra, filho de Erenice Guerra, de prometer acesso a um financiamento de R$ 9 bilhões do BNDES, desde que fosse paga uma comissão pela intermediação. O contrato previa seis pagamentos de R$ 40 mil mensais para a Capital Consultoria, comissão de 5% sobre o valor do empréstimo e, ainda, repasse de R$ 5 milhões para, supostamente, ajudar a campanha de Dilma Rousseff.

Quebra de sigilo

INDICIADO PELOS crimes de quebra de sigilo e uso de documento falso, o contador Antônio Carlos Atella admitiu ter pego na Receita Federal as declarações de renda de Verônica Serra, filha de José Serra. No entanto, ao prestar depoimento à PF, Atella disse não saber quem encomendou a quebra do sigilo fiscal de Eduardo Jorge Pereira, vice-presidente do PSDB, e de outros tucanos.