Título: Políticas de redução da pobreza estão no limite
Autor: Oswald, Vivian
Fonte: O Globo, 03/10/2010, O País, p. 19

BRASÍLIA. Nem precisa ir longe.

As mazelas da área social estão expostas a dois quilômetros do Palácio do Planalto. Claudinei da Silva é um dos tantos meninos que buscam nos sinais de trânsito próximos à rodoviária o sustento da família. Franzino aparenta 10 anos, mas diz ter 14 e sustenta a família com as gorjetas que recebe até a madrugada.

Ele não tem pai, mora na periferia com a mãe doente e dois irmãos menores. A família não tem ajuda do governo, diz ele.

Claudinei e os meninos da rodoviária ¿ a maioria sem família e viciada em crack ¿ fazem parte de uma legião de excluídos que dão a medida dos desafios do próximo presidente na área social. Ele terá um país com 1,2 milhão de usuários de crack e onde a violência ainda é uma das principais causas de morte.

Onde faltam escolas, saneamento e atendimento nos hospitais.

O professor Vicente Saleiros, da pós-graduação em Política Social da Universidade de Brasília, defende um novo modelo de gestão de políticas sociais e presença maior do Estado. Ele observa que, no Brasil, há uma desigualdade territorial marcante.

Regiões privilegiadas com água, luz, escolas, postos de saúde e uma periferia, sem as condições básicas. As políticas públicas, diz, deveriam seguir uma nova geografia sociopolítica, priorizando ¿territórios de exclusão¿: ¿ Falta articulação para trabalhar em rede nos territórios de exclusão. Não adianta pensar na educação sem pensar no combate às drogas e no emprego.

Para Saleiros, a falta de articulação entre as políticas públicas leva a situações paradoxais. Falta mão de obra especializada, mas muitos jovens são forçados a abandonar a escola para ajudar no sustento da família.

O economista André Urani destaca que o Brasil reduziu o número de pobres desde o início dos anos 90, resultado da estabilidade econômica com políticas sociais, mas considera que a eficácia dessas políticas está esgotada.

Ele diz que, para uma mudança de patamar no rumo do desenvolvimento, o país ainda tem gargalos na área social: ¿ As políticas de redução da pobreza chegaram no limite. Para avançar, (o novo governo) terá que dar um salto qualitativo para atacar outras áreas.

Urani pesquisou o impacto do Bolsa Família nas regiões metropolitanas e conclui que, entre os mais pobres, a redução da pobreza se concentrou em famílias chefiadas por homens. O carrochefe de Lula na área social não tirou da pobreza extrema famílias chefiadas por mulheres. Só 1,7% da redução da indigência se deu nessas famílias, segundo a Pesquisa Nacional de Domicílios de 2008, do IBGE. Entre as razões, estão as dificuldades de acesso das mulheres ao mercado de trabalho, decorrentes de baixa escolaridade e necessidade de cuidar dos filhos