Título: Marina perde ganhando, como queria
Autor: Alencastro, Catarina; Roxo, Sergio
Fonte: O Globo, 04/10/2010, O País, p. 17
Com desempenho acima do previsto, verde anuncia que fará plenária do partido para decidir quem apoiar no 2o- turno
SÃO PAULO e RIO BRANCO. Ao discursar ontem após a confirmação do segundo turno entre Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB), Marina Silva (PV) anunciou que defenderá a realização de uma plenária de seu partido com segmentos sociais que a apoiaram, para decidir quem o partido vai apoiar no segundo turno. Com quase 20% dos votos em todo o país, ela comemorou a sua votação e disse que saiu vitoriosa da disputa: ¿ O partido vai ter que fazer uma discussão nas suas instâncias e, por respeito aos que fizeram aliança conosco, vai ter de também convidá-los para debater as nossas posições.
Marina mandou recados para a direção do PV, próxima do PSDB e inclinada a manifestar apoio imediato a José Serra. O PV participava da gestão tucana no governo de São Paulo e estava coligado com os tucanos no Rio de Janeiro.
¿ A nossa decisão será uma decisão que não tem nada a ver com a velha política que se apressa em manifestar uma posição só para vislumbrar pontos lá na frente.
Previsão de neutralidade no segundo turno A candidata e a direção do partido se mantiveram distantes durante a campanha. Por coincidência ou não, o presidente do PV, José Luiz Penna, não acompanhou o pronunciamento, feito na Vila Madalena, em São Paulo.
Quando deixava o local, Marina foi perguntada sobre a possibilidade de ser vice de Serra. Ela deu risada e fez um sinal negativo.
Os dois partidos não estão coligados nacionalmente.
Aliados de Marina dizem acreditar que ela defenderá a neutralidade no segundo turno.
A opção traria ganhos para a eleição de 2014. As críticas feitas ao longo da campanha também tornariam difícil explicar um posicionamento em favor de Dilma ou de Serra.
Indagada, Marina descartou a possibilidade de ocupar um ministério, seja no governo de Dilma ou de Serra. A arrancada de Marina se deu no último mês.
Depois de oscilar entre 10% e 11% (entre 13 milhões e 15 milhões de votos) nas pesquisas até o início de setembro, a verde passou para 13% no Datafolha.
O clima no local em que Marina fez o seu último pronunciamento como candidata foi de festa. Ao chegar, ela foi saudada em coro por militantes: ¿Gente, gente, gente, Marina presidente¿. Com voz bastante rouca e acompanhada dos quatro filhos e do marido, ela comemorou a votação: ¿ Somos vitoriosos, ainda que não tenhamos ido para o segundo turno. Conseguimos quebrar a ideia do plebiscito.
Sobre o futuro, Marina disse que irá ¿voltar para a sociedade¿, já que o seu mandato de senadora acaba no final do ano.
Na votação, crítica a quem mudou posição na campanha Marina votou na sede do Incra em Rio Branco, no Acre, por volta das 10h. Ela se disse orgulhosa de ter conseguido se viabilizar como uma alternativa para a Presidência do Brasil.
¿ Estar aqui onde tantas vezes eu acampei com os trabalhadores rurais, onde a gente não era recebido nem pelo presidente do Incra local, é motivo de muita alegria.
Ela criticou quem mudou posições ao longo do processo eleitoral, sem citar nomes.
¿ A gente ganha ganhando quando vai até o fim coerente com os princípios, não distorcendo nem desvirtuando os fins dos meios. Os fins têm que ser compatíveis com os meios ¿ disse ela, que ¿perdeu ganhando¿, como chegara a pedir, caso não pudesse ¿ganhar ganhando¿.