Título: Cacife de Lula foi pouco para evitar 2º turno
Autor: Freire, Flávio
Fonte: O Globo, 04/10/2010, O País, p. 16

PT não consegue, de novo, ganhar no 1º

BRASÍLIA. Ainda não foi desta vez que o PT conseguiu dar o troco nas urnas ao PSDB em uma disputa presidencial.

Diferentemente do que se chegou a pensar, o cacife político do atual presidente não foi suficiente para eleger sua candidata no primeiro turno. Com isso, nem Lula, nem Dilma conseguiram repetir o feito de Fernando Henrique Cardoso, que se elegeu duas vezes em uma única rodada. O cientista político da UnB Leonardo Barreto afirma que o recado das urnas é claro: apesar de as pessoas quererem a continuidade das políticas públicas implementadas por Lula, ainda não sentem confiança total em Dilma.

¿ É um engano achar que estes votos estão sendo dados para Dilma. Ela não tem carta branca, nem margem para desviar do que está sendo feito. As pessoas querem um nível maior de esclarecimento ¿ afirmou Barreto.

Os vários sinais de que os brasileiros optaram pelo caminho da continuidade deram as cartas da campanha eleitoral. O risco de não dançar conforme a música era alto demais para os candidatos de oposição. Segundo Barreto, o próprio Serra mudou, deixando-se levar por ¿uma tentação populista¿: ¿ O Serra até fugiu da linha dele e caiu numa tentação populista de dizer que vai aumentar o salário mínimo para R$ 600, já numa linha bem populista.

Para o especialista, a queda de Serra nas intenções de voto em relação às primeiras pesquisas anunciadas no início da campanha está muito mais vinculada à memória da população.

¿ Não era vantagem o que ele tinha. Era o que chamamos de recall, memória.

Isso era o que ele tinha. As pessoas o associavam a isso (eleição). À medida que a Dilma foi se tornando conhecida como candidatado Lula, ganhou os votos. Não tinha muito o que Serra pudesse fazer. Derrotar um governo com quase 80% de popularidade não é fácil ¿ avalia Barreto.

O cientista político David Fleischer diz que a posição de Marina Silva no segundo turno será o fiel da balança.

O especialista não acredita que a candidata do PV saia da neutralidade, mas não descarta a possibilidade de o seu partido apoiar Serra.

Para Fleischer, tudo pode acontecer no segundo turno, como em 2006, quando o então candidato à Presidência pelo PSDB, Geraldo Alckmin, recebeu menos votos do que os que havia obtido no primeiro turno: ¿ É uma nova eleição. O Serra vai tentar roubar partidos da coalizão de Dilma, como o PP e o PTB.

O segundo turno nunca chegou a preocupar o mercado financeiro, desde que Dilma seja eleita, como apontam as pesquisas. Esta é a avaliação de Alex Agostini, economista-chefe da Consultoria Austin Rating.

No entanto, o especialista afirma que Serra continua sendo motivo de certa preocupação, tendo em vista suas declarações sobre a independência do Banco Central (BC) e a forma como o governo atual conduz a política de câmbio.

¿ A Dilma é vista como continuidade. Serra, diante do cenário apontado pelas pesquisas, seria o cenário alternativo. Ainda não estão claras as orientações econômicas que teria o seu governo. Houve declarações bastante negativas ¿ disse Agostini.