Título: Para evangélicos, PT subestimou boatos
Autor: Otavio, Chico
Fonte: O Globo, 05/10/2010, O País, p. 9

Líderes acreditam que resposta mais rápida para acusações feitas a Dilma garantiria "pontinhos que faltaram"

Os líderes evangélicos Manoel Ferreira e Robson Rodovalho, que apoiam Dilma Rousseff, criticaram ontem o comando da campanha petista pela lentidão na resposta à onda de boatos na internet que confrontavam a candidata com valores cristãos. Deputado federal (PP-DF) e presidente da igreja Sara Nossa Terra, o bispo Rodovalho disse que teria alertado durante todo o processo que mensagens apócrifas atribuíam a Dilma a frase nem Cristo vai impedir que eu vença a eleição no primeiro turno, entre outras acusações, mas a resposta do comitê só foi dada na última semana de campanha: Avisei que havia essa fragilidade e que precisávamos estancar, mas faltou rapidez.

O presidente da Assembleia de Deus de Madureira, pastor Manoel Ferreira, que participou com Rodovalho de uma reunião na quarta-feira passada no escritório político de Dilma, em Brasília, convocada às pressas para frear a boataria, disse que uma resposta mais rápida poderia ter garantido os pontinhos que faltaram para a vitória da petista no primeiro turno.

No encontro com duas dezenas de líderes religiosos, incluindo representantes da igreja católica carismática, Dilma reafirmou a sua posição pessoal contrária ao aborto e negou publicamente que tivesse dito a frase sobre Cristo.

Se tivéssemos apagado o incêndio no primeiro momento, o resultado seria outro disse Manoel Ferreira.

O pastor preside um dos ramos da maior igreja evangélica pentecostal do Brasil (de acordo com o Censo de 2.000, 8,4 milhões de fiéis), enquanto Rodovalho diz contar com um rebanho de 1 milhão de pessoas na Sara Nossa Terra. Ele disse que a onda de boatos tentou resgatar a imagem do passado de Dilma, associando-a de forma terrorista ao desprezo aos valores cristãos. Segundo ele, todo mundo na igreja tomou conhecimento dos boatos.

Foi coisa montada. A internet passou a ser um veículo do submundo da política.

Embora associe o bom desempenho de Marina Silva (PV) a uma série de fatores, o professor Cesar Romero Jacob, autor de estudos sobre a geografia do voto e a filiação religiosa no Brasil, disse que a questão religiosa contribuiu para o sucesso da candidata verde. Entre outras razões, Cesar disse que os pentecostais têm demonstrado, nas últimas eleições, uma tendência a votar em irmãos como Marina, que também pertence à Assembleia de Deus.

Em pesquisas anteriores, o cientista político detectara essa tendência na eleição presidencial de 2002, quando o evangélico Anthony Garotinho ficou em terceiro lugar, e de Marcelo Crivella, quando disputou a prefeitura carioca em 2004.

Os mapas de votação de Garotinho e Crivella praticamente se sobrepõem à distribuição geográfica dos pentecostais no Brasil, principalmente nas áreas de fronteira e na periferia pobre das grandes cidades, e no Rio.

Cesar lembrou que o governador eleito Geraldo Alckmin (SP), candidato pelo PSDB a presidente em 2006, também sofreu semelhante onda de boataria, que o classificava como um representante da Opus Dei, entidade católica considerada ultraconservadora.