Título: O Rio se revitaliza
Autor:
Fonte: O Globo, 05/10/2010, Opinião, p. 7

EDUARDA LA ROCQUE e ALESSANDRA AUGUSTA SOUZA

Ao longo das últimas décadas, o Rio de Janeiro perdeu progressivamente espaço na atuação e localização dos agentes do mercado financeiro. As razões são diversas, mas talvez a principal tenha sido a falta de visão do setor público sobre a importância de ter um ambiente de negócios favorável e amigável aos empreendedores que desejam se instalar na cidade. O resultado é o esvaziamento histórico, a perda de cérebros e a involução econômica. Mesmo com toda a liquidez internacional e a pujança de recursos para o Brasil, o Rio pouco se beneficiou da chegada de novos players ou de suas operações no mercado de capitais.

Iniciou-se em 2009, entretanto, amplo programa de desburocratização e impulso ao desenvolvimento econômico-financeiro, uma prioridade da prefeitura, com o objetivo de induzir o crescimento da cidade, atrair novos agentes e criar alternativas de investimento para o município. Foi identificada na Secretaria de Fazenda a possibilidade de revitalizar o nosso mercado financeiro, carioca por nascimento. Não se trata de competir com São Paulo, mas identificar e impulsionar as potencialidades e vocações naturais do Rio.

Exemplos claros são os segmentos de Asset & Wealth Management, seguros e resseguros, produtos ligados à sustentabilidade, mercado imobiliário, além da indústria do petróleo. Pode-se ainda acelerar esse processo de revitalização com a implantação de ações voltadas para a atração de grandes eventos de economia e finanças. Sem esquecer o papel fundamental da formação de mão de obra jovem e qualificada, desempenhado pelas universidades e faculdades cariocas.

O primeiro passo para que esse renascimento se torne uma realidade foi a criação do Grupo Financeiro Carioca, que surgiu para identificar e debater alternativas possíveis e empreender esforços de forma conjunta, unindo parceiros dos setores público e privado, para induzir desenvolvimento e redirecionar o município a uma trajetória de crescimento econômico forte e sustentável. Reuniões têm sido realizadas com agentes e interlocutores de mercado, não somente para dar visibilidade à estrutura fiscal do município (vantajosa a atividades como administração de recursos e corretagem de valores mobiliários) e aos projetos de médio e longo prazos, mas também para tentar solucionar entraves ao desenvolvimento das vocações naturais cariocas.

Temos talentos, temos investido na renovação da cidade, temos a vontade de realizar e temos os recursos. Logo o aeroporto voltará a ser mais que uma porta de entrada para brasileiros e estrangeiros perceberem a relevância do ponto de inflexão que vivemos.

EDUARDA LA ROCQUE é secretária municipal de Fazenda do Rio. ALESSANDRA AUGUSTA SOUZA é mestre em Economia.