Título: Para Lula, ataque de policiais foi burrice
Autor: Weber, Demétrio; Farah, Tatiana
Fonte: O Globo, 02/10/2010, O Mundo, p. 40

Presidente se diz certo de que protestos foram tentativa de golpe, e Unasul envia 12 ministros a Quito

HUGO CHÁVEZ abraça o colombiano Juan Manuel Santos (à direita) na reunião da Unasul em Buenos Aires

BRASÍLIA e SÃO PAULO. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva classificou ontem de tentativa de golpe ao presidente Rafael Correa a rebelião da polícia e de parte dos militares do Equador - e não hesitou em chamar de burrice a suposta manobra para incendiar as ruas de Quito.

- O que aconteceu no Equador é condenado por todos os presidentes democratas do mundo. Portanto, eu acho que hoje os golpistas se deram conta da burrice que fizeram - afirmou o presidente, após inaugurar um centro de apoio a dependentes químicos em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo.

Chávez e Morales culpam EUA por distúrbios

Lula tentou minimizar a crise no Equador, afirmando que o assunto já está encerrado:

- Para mim já está encerrado porque não é possível que as pessoas não entendam que esse tipo de tentativa de derrubar um presidente não é correto. Policiais jogarem bomba num presidente é menos correto ainda. Todos nós, presidentes da América do Sul, precisamos condenar (isso), da forma mais veemente possível e apoiar sem restrições o presidente Rafael Correa.

Questionado sobre a forma como o Brasil poderia ajudar na crise, Lula foi enfático, mas sem dar detalhes:

- Já está ajudando. O Brasil e o Mercosul, o Brasil e a Unasul, todos nós vamos ajudar.

O presidente confirmou ter enviado o secretário geral do Itamaraty, Antonio Patriota, a Buenos Aires, na Argentina, para a reunião de emergência da Unasul. Elogiando Correa, a quem chamou de "um grande presidente", Lula afirmou que eleições democráticas no Brasil são um exemplo para qualquer golpista do Equador.

- Tenho consciência de que o povo brasileiro vai dar um show de consolidação no processo democrático no domingo. É uma demonstração para qualquer golpista do Equador não pensar em derrubar um presidente eleito pelo voto. Ou seja, é melhor as pessoas divergirem e discutirem, fazerem acordo, mas um presidente eleito precisa ser respeitado. E o Rafael Correa é um grande presidente.

Somente ontem à tarde, o presidente conseguiu conversar, por telefone, com o colega equatoriano e expressar sua solidariedade. De acordo com o Palácio do Planalto, Correa disse a Lula que acha que foi vítima de uma tentativa de golpe. O presidente equatoriano afirmou, porém, que a situação no Equador está sob controle.

Apesar da calmaria aparente em Quito, nem mesmo a resolução da Unasul apoiando o presidente Rafael Correa pareceu suficiente para aquietar as lideranças regionais. O encontro determinou que todos os chanceleres dos 12 países-membros seguissem para a capital equatoriana a fim de dar respaldo político à Presidência. O grupo deve se reunir com o ministro de Relações Exteriores do Equador, Ricardo Patiño. O secretário-geral da Organização dos Estados Americanos, o chileno José Miguel Insulza, também viajou com os ministros. O embaixador do Brasil em Quito, Fernando Simas, disse que o "respaldo da comunidade internacional, e especificamente da Unasul", teve uma importância de peso no final da rebelião da polícia. Segundo ele, um comitê de embaixadores dos países da Unasul reuniu-se com integrantes do governo enquanto Correa ainda permanecia dentro do hospital, cercado pelos policiais rebeldes.

O clima de tensão diplomática ganhou ainda o reforço dos presidentes da Venezuela, Hugo Chávez, e Evo Morales, da Bolívia - que culpavam os Estados Unidos pelos violentos distúrbios no Equador.

- A intentona golpista coloca a Unasul à prova. Não podemos descartar nenhum tipo de ação. Se deixarmos passar os gorilas (golpistas), os gorilas vão ficar com os governos do continente - completou o peruano Alan García.

Até mesmo a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, advertiu para supostas intenções de desestabilização dos governos da América Latina e deu o total apoio de Buenos Aires ao governo de Quito.

Para a presidente, os protestos pela aprovação de uma lei que retiraria benefícios econômicos a funcionários equatorianos foram "apenas uma desculpa para uma tentativa de destruir as conquistas sociais que alcançou um governo nacional e popular como o de Rafael Correa".

COLABOROU: Janaína Figueiredo