Título: O cachê é pago pelo contribuinte
Autor: Brito, Ricardo; Moraes, Diego
Fonte: Correio Braziliense, 27/06/2009, Política, p. 4

Magno Malta emprega no gabinete do Congresso o tecladista e o produtor da banda Tempero do mundo, que tem como integrante o próprio parlamentar capixaba. Magno Malta: músico e produtor da banda do senador do PR não costumam aparecer no gabinete de Brasília

Tempero do Mundo/Divulgação Foto de divulgação da Tempero do mundo: Magno Malta é o cantor

Há 15 anos, a política e a música viraram dois objetivos na vida do hoje senador Magno Malta (PR-ES). Quando se tornou deputado estadual, em 1994, Malta fundou com a família a banda de pagode gospel Tempero do mundo. Quatro anos mais tarde, já como deputado federal, ele lançou o primeiro disco da banda ¿ e o grupo passou a ser conhecido nacionalmente entre o público evangélico. Nos últimos dois anos, o vocalista-senador radicalizou a relação que tem como principal nome da banda. Passou a empregar integrantes do conjunto musical no Senado. O cachê, claro, é pago pelo contribuinte ¿ seja fã ou não do estilo musical.

O primeiro contratado pelo Senado foi o maranhense Roberto Leonardo Silva Castro. Tecladista da banda, Leonardo foi nomeado como assessor-técnico de Malta em junho de 2007, com o maior salário de comissionado da Casa, R$ 8,2 mil. Mas não tem hábito de dar expediente no escritório político do senador em Brasília ou mesmo em Vila Velha (ES), reduto eleitoral de Malta. Uma funcionária do gabinete do senador em Brasília confirmou que o tecladista quase nunca vem ao Congresso.

Lá no Espírito Santo, outra funcionária, lotada no escritório político, disse que Roberto Leonardo não se envolve nos ¿assuntos parlamentares¿. ¿Ele fica mais na rádio e cuidando dos assuntos da banda¿, disse ela. Um funcionário da Rádio Cor da Vida FM, da família do senador, disse que o tecladista participa de um programa diário veiculado na emissora e um segundo transmitido aos sábados.

O tecladista defende-se, dizendo que seu trabalho como assessor é ¿dar palestras em escolas sobre drogas¿. ¿A gente faz palestras orientando sobre drogas e levando a palavra de Deus e, por acaso, a gente também toca numa banda¿, afirmou Roberto Leonardo, que se diz um ex-viciado e que se converteu em 1997. Ele nega ser ¿funcionário fantasma¿(1).

Já Ronilson Santos Lins é o produtor musical Rony Lins, nomeado em julho de 2008 para o cargo de assessor, com salário de R$ 3,7 mil. Além do Tempero do mundo, no site do produtor consta no rol de artistas que já assessorou Adriana Calcanhoto, Oswaldo Montenegro, Nando Reis, João Bosco e Ivan Lins. Sem saber que estava falando com a reportagem na manhã de ontem, admitiu, por telefone, que continuava produzindo a banda de Magno Malta. À noite, contudo, afirmou que, há um ano, parou de trabalhar com produção musical para assessorar o senador na presidência da CPI da Pedofilia. Ele disse que, desde 2000, é produtor da banda dele.

Ronilson informou que cuida da agenda musical e parlamentar de Malta. ¿Hoje não tem mais tempo¿, afirmou Ronilson. ¿Quando terminar, pretendo voltar (a produzir)¿, completou, ressaltando que Malta foi ¿um pastor, músico, que se tornou senador¿. Rony disse que não vê impedimento para que mantenha suas atividades de assessor e produtor ao mesmo tempo. ¿Desde que não atrapalhe no seu dia a dia¿, avalia. Procurado ontem no telefone celular e nos gabinetes em Brasília e Vila Velha, o senador não foi localizado.

Saia-justa Não é a primeira vez que a banda Tempero do mundo coloca o senador capixaba numa saia-justa. Há cerca de três anos, o senador foi envolvido no escândalo da máfia das sanguessugas. Em agosto de 2006, foi aberto um processo de cassação contra o parlamentar no Conselho de Ética do Senado. Para realizar sua turnê de shows, a banda do senador usou uma van que já pertencera ao empresário Darci Vedoin, um dos donos da Planam. A suspeita, não confirmada posteriormente, era de que Malta havia feito emenda parlamentar para a Planam, apontada como responsável pelo esquema de fraudes a licitações por meio de emendas parlamentares ao Orçamento. ¿Eu nunca coloquei emenda, nunca participei de máfia de ambulância, nunca falei com ninguém¿, afirmou o parlamentar, à época.

1- LONGE DO TRABALHO É chamado de fantasma um servidor público ou um funcionário comissionado de algum órgão público que recebe salários e não aparece para trabalhar. Esse tipo de prática é comum, especialmente no Legislativo. Na atual crise por que passa o Senado, um dos principais casos da prática foi o de Isabella Murad Cabral Alves dos Santos, sobrinha do genro do presidente do Senado, José Sarney. Lotada no gabinete da liderança do PTB, Isabella estuda na Espanha.