Título: Marina: criaram centrais de boataria
Autor: Roxo, Sérgio
Fonte: O Globo, 02/10/2010, O País, p. 16

Verde acusa campanhas de Dilma e Serra de fomentar boatos; candidata reclama que tentaram tachá-la de fundamentalista

MARINA SILVA faz caminhada no Viaduto do Chá, no Centro de São Paulo, acompanhada de militantes

SÃO PAULO. A candidata do PV à Presidência da República, Marina Silva, acusou ontem os adversários Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) de criarem "máquinas de boataria" durante a eleição. Ao ser indagada sobre as manifestações de religiosos na internet contra Dilma por causa das posições da petista sobre o aborto e o casamento homossexual, a candidata verde partiu para o ataque, como tem feito na reta final da disputa:

- Quem criou centrais de boataria, máquinas poderosas de boato, foram as duas candidaturas, a oficial de oposição e a oficial de situação. Inclusive esses boatos eram potencializados contra mim.

Perguntada sobre quais boatos foi alvo ao longo da campanha eleitoral, Marina disse que viu na internet uma tentativa de tachá-la de "uma pessoa conservadora e fundamentalista por causa da sua posição sobre temas como aborto e legalização da maconha".

- Existiram máquinas que atacavam uns aos outros e também no banzeiro vinham para cima de mim - disse.

Marina defende a realização de um plebiscito sobre o aborto e se diz contrária ao casamento gay, "como sacramento", mas defende que os homossexuais tenham direito à herança do parceiro.

- Não convocaria esse plebiscito. Quem convoca o plebiscito é o Congresso Nacional - afirmou.

A verde acredita que "pagou o preço" durante a disputa eleitoral por causa de sua posição. Recentemente, setores evangélicos a atacaram por se manifestar pelo plebiscito para a questão do aborto.

Durante entrevista em seu comitê central de campanha, em São Paulo, a candidata voltou a criticar José Serra pelo fato de o tucano não ter apresentado um programa de governo.

- Infelizmente, o Serra não tinha um programa, uma plataforma. Como alguém quer ser candidato a presidente do Brasil e não apresenta uma plataforma? O eleitor sente isso.

"Quebramos o plebiscito, e não tinham como debater"

Mais cedo, durante caminhada no Centro de São Paulo, Marina disse que Dilma e Serra tornaram o debate da Rede Globo na noite de quinta-feira "frio" por evitarem o confronto, justamente porque "não possuem programa de governo". Marina lembrou que no primeiro debate da eleição, realizado pela TV Bandeirantes, "havia uma ansiedade de Dilma e Serra em se confrontarem porque eles estavam na lógica do plebiscito".

- Como quebramos o plebiscito no final, como não tinham programa de governo, não tinham o que debater - afirmou a candidata, em referência ao seu crescimento nas pesquisas de intenções de voto.

Sobre a menção de Serra no debate à sua permanência no PT mesmo depois do escândalo do mensalão, Marina disse que viu uma mudança de atitude do tucano.

- O Serra mudou. Ele me elogiava bastante antes. Mas acho que ele ficou um pouco irritado em função da pergunta sobre o renda mínima - afirmou a verde. Na verdade, a sua pergunta no debate tratou da posição do candidato do PSDB sobre o Bolsa Família.

A previsão do PV era que Marina, em sua última atividade de campanha em São Paulo, caminhasse entre o Viaduto do Chá e a Praça da Sé, na região central da cidade. A verde atrasou quase uma hora e os militantes esperaram sob chuva. Quando a candidata chegou, a chuva deu uma trégua, mas logo em seguida voltou. Devido ao empurra-empurra entre militantes que tentavam se aproximar da presidenciável e os jornalistas, a candidata deu uma entrevista também tumultuada e foi embora depois de andar por apenas 100 metros. Ela cruzou o Viaduto do Chá e, no final da caminhada, cantou o Hino Nacional.