Título: FMI alerta países emergentes para excesso do capital estrangeiro
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Fonte: O Globo, 06/10/2010, Economia, p. 26
Fundo lembra que primeira elevação do IOF no Brasil não conteve fluxo
WASHINGTON e BRUXELAS. Às vésperas da reunião anual conjunta do Banco Mundial (Bird) e do Fundo Monetário Internacional (FMI), nesta sexta-feira, a disputa global sobre o câmbio continua se acirrando. O tema não escapou do Relatório sobre a Estabilidade Financeira Global, divulgado ontem pelo FMI, que aconselha as economias emergentes a se prepararem para a entrada excessiva de capitais.
O relatório ressalta que os emergentes atravessaram melhor a crise financeira global, mas, por seu crescimento e solidez fiscal ao contrário dos países ricos, com endividamento elevado , têm atraído cada vez mais investidores.
Um dos emergentes citados pelo FMI é o Brasil, que, assim como Indonésia e Coreia do Sul, estabeleceu medidas para reduzir o impacto da entrada desse capital externo. Mas o relatório só menciona a elevação do IOF em outubro de 2009, de zero para 2%, ressaltando que isso não se mostrou capaz de reduzir esse fluxo.
Sistema financeiro é calcanhar de Aquiles Mas na entrevista coletiva para a divulgação do relatório, José Viñals, diretor do Departamento Monetário e de Mercado de Capitais do FMI, comentou a nova alíquota, de 4%, anunciada segunda-feira.
Temos de ver o que vai acontecer para avaliar a eficácia dessas novas medidas.
O relatório do FMI, no entanto, deu mais ênfase à necessidade de equilíbrio fiscal.
O texto afirma que os problemas da dívida de países europeus e a persistência dos problemas no mercado imobiliário americano prejudicaram a estabilidade financeira global nos últimos seis meses.
O sistema financeiro global ainda está em um período de incerteza significativa e continua sendo o calcanhar de Aquiles da recuperação econômica, afirma o relatório. Viñals ressaltou que um sistema financeiro sólido seria, inclusive, uma proteção contra crises cambiais.
O FMI afirma que, se os bancos não resolverem o problema dos créditos podres, continuarão sujeitos a choques, que afetarão as finanças públicas e a recuperação global.
O relatório lembra ainda que o crescimento econômico vem perdendo fôlego depois de resultados melhores que o esperado no início deste ano.
Diretor do FMI alerta para uso de câmbio como arma Terminou ontem em Bruxelas o oitavo Encontro Ásia-Europa, no qual a China sofreu forte pressão dos países da zona do euro para permitir uma apreciação significativa do yuan. O primeiro-ministro chinês, Wen Jiabao, no entanto, não concordou que a moeda esteja subvalorizada.
O presidente do comitê de ministros das Finanças da zona do euro, Jean-Claude Juncker, disse a jornalistas, após as discussões com Wen, que o câmbio chinês continua subvalorizado.
Ao ser perguntado sobre a reação de Wen, Juncker disse que a mensagem europeia não surpreendeu a delegação chinesa. Wen não participou da coletiva.
Estados Unidos e Europa acusam a China de manter sua moeda artificialmente desvalorizada para estimular suas exportações.
Isso, argumentam, afeta o emprego e a competitividade das economias ocidentais.
Na segunda-feira, o diretorgerente do Fundo, Dominique Strauss-Kahn, havia dito ao jornal britânico Financial Times que está circulando a ideia de que o câmbio pode ser usado como arma pelos governos.
Transformada em realidade, essa ideia representaria um sério risco à recuperação global, afirmou.