Título: Filhos de Erenice ficam calados
Autor: Carvalho, Jailton de
Fonte: O Globo, 06/10/2010, O País, p. 10
PF decide esta semana se convoca ex-ministra para depor
BRASÍLIA. Após passar duas semanas tentando evitar a intimação, Israel e Saulo Guerra, filhos da ex-ministra da Casa Civil Erenice Guerra, compareceram ontem à Superintendência da Polícia Federal (PF) para prestar depoimento no inquérito em que são investigados por tráfico de influência.
Mas os dois preferiram permanecer calados e não responderam às perguntas do delegado Roberval Vicalvi. Segundo Marcelo Leal, um dos advogados dos dois irmãos, eles não cometeram os crimes ou irregularidades apontadas contra eles: Entendemos que os fatos ainda não estão devidamente delineados. Entendemos que existe um forte componente político nisso tudo, mas meus clientes são absolutamente inocentes. E temos certeza de que isso será provado no fim do processo.
Com a decisão dos dois irmãos de não colaborar com as investigações, crescem as chances de Erenice ser chamada para depor. A polícia deve tomar uma decisão ainda esta semana. Israel e Saulo são acusados de usar a empresa Capital Consultoria para intermediar negócios entre empresas privadas e o governo. O escândalo já resultou na demissão de Erenice e provocou desgaste à candidatura de Dilma Rousseff (PT) à Presidência. Erenice era a principal auxiliar de Dilma, quando a ex-ministra estava no governo.
Pelas denúncias do ex-diretor de Operações dos Correios Marco Antônio Oliveira, Israel teria ajudado a Master Top Airlines (MTA) a obter uma licença na Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). Com a licença, a Master assinou contrato com os Correios. Em depoimento à PF, o lobista Fábio Baracat disse que pagou R$ 200 mil por parte dos serviços prestados por Israel.
A Capital Consultoria também teria negociado um contrato para intermediar um pedido de empréstimo de R$ 9 bilhões da EDRB, empresa de energia, no BNDES. A denúncia foi feita pelo lobista Rubnei Quícoli. O BNDES disse que o pedido de empréstimo foi de R$ 2,025 bilhões e não R$ 9 bilhões, conforme declara Quícoli. O financiamento, um volume expressivo de dinheiro para um projeto de energia alternativa no Nordeste, não foi aprovado.
Entre os sócios de Israel nos negócios colocados sob suspeita está o advogado Vinícius Castro, exassessor de Erenice na Casa Civil. Castro também ficou calado no depoimento à PF. Ele teria usado a mãe, Sônia Castro, na Capital. O nome dela aparece entre os sócios. Oliveira prestou depoimento à PF segunda-feira e, segundo o advogado Pedro Elói, respondeu a todas as perguntas.