Título: Câmara estica férias por mais um mês
Autor: Braga, Isabel
Fonte: O Globo, 06/10/2010, O País, p. 16

Sem votar um projeto desde 17 de julho, deputados resolvem se concentrar no 2º turno presidencial e em disputas regionais

BRASÍLIA. Depois de três meses de recesso eleitoral branco da Câmara, com deputados voltados às suas reeleições, a primeira decisão dos líderes na retomada dos trabalhos ontem foi prolongar a interrupção das votações.

Em reunião, os líderes partidários decidiram manter o recesso branco até o final da eleição presidencial, no dia 31 de outubro. E como na semana seguinte haverá o feriado de Finados, dia 2, os trabalhos só serão retomados no dia 3 de novembro.

A última votação de projeto na Câmara ocorreu no dia 17 de julho deste ano.

Os próprios líderes estão cientes de que receberão mais críticas por conta dessa atitude.

Em seu favor, no entanto, argumentam que elas viriam de qualquer jeito diante da falta de votação em sessões convocadas neste período.

Vamos apanhar hoje, mas apanharíamos do mesmo jeito se viéssemos todas as semanas e não conseguíssemos votar nada. Estamos em campanha e até 31 de outubro o país não discute mais nada além disso argumentou o líder do PT, Fernando Ferro (PE).

Ontem apenas 149 deputados marcaram presença na Casa. A reunião de líderes, presidida pelo vice-presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), durou menos de meia hora. Assim que abriu o encontro, Maia ouviu de líderes propostas para cancelar as votações durante o período da campanha presidencial de dois turnos. Muitos lembraram que haverá segundo turno em nove estados. Maia chegou a propor cancelar os trabalhos só na próxima semana, mas a maioria não aceitou, argumentando que dificilmente seria possível obter presença para votar.

Medidas provisórias poderão caducar As sessões de votação não ocorrerÃO, mas as de debate podem ser mantidas, desde que no momento da abertura haja 51 deputados presentes na Casa.

Na pauta não há matérias de alta relevância e não há acordo para as demais. Todos estão conectados, envolvidos com o segundo turno presidencial e as eleições para o governo de alguns estados. A dificuldade de compor o quórum será enorme e o desgaste seria muito maior se convocássemos sessões todas as semanas sem obtenção de quórum ponderou Maia.

A maior parte dos líderes mandou representantes ao encontro, já com a determinação de cancelar as votações. Um dos pouco líderes presentes, o tucano João Maia (BA), concordou com a tese apresentada pelos representantes da base aliada ao governo Lula: É uma imposição da realidade.

Há um segundo turno muito disputado e todos os agentes estarão envolvidos. Na pauta, estão medidas provisórias que irão caducar, mas para mim já nasceram caducas. O pré-sal, eles (os governistas) já aprovaram o que interessava a eles, a capitalização. Agora, sessão para debate só se houver 51.

O petista Fernando Ferro lembrou que o quórum desta semana também ficou prejudicado porque muitos dos atuais deputados não foram reeleitos e sequer vieram à Casa.

Além disso, há o ambiente de embate político por conta do segundo turno e das disputas regionais. O embate político se reflete nas votações e dificulta o entendimento acrescentou.

Apesar de estar em Brasília, o presidente Michel Temer (PMDB-SP) não foi ontem à Câmara.

Segundo Marco Maia, Temer preferiu não assumir o comando das negociações na Casa por entender que não seria adequado, já que disputa como vice na chapa da candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff.