Título: Ações da Petrobras caem até 5,48%
Autor: Bôas, Bruno Villas; Guedes, João
Fonte: O Globo, 08/10/2010, O País, p. 3

Rumores de denúncias levam nervosismo ao mercado e investidores vendem papéis

Os rumores sobre a publicação de denúncias sobre supostas irregularidades em negócios da Petrobras derrubaram as ações da companhia ontem na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). A ação ordinária da empresa (ON, que dá direito a voto nas reuniões do conselho de administração) chegou a cair 5,48%, mas fechou em queda menos acentuada, de 2,98%, a R$28,31. Já as preferenciais (PN, sem direito a voto) perderam 2,16%, para R$25,30, depois de uma queda de até 4,71% no dia. Segundo analistas, a queda fez os papéis ficarem baratos, e investidores aproveitaram para a oportunidade de compra.

As ações da Petrobras movimentaram R$1,8 bilhão ontem e responderam por 18% do volume de negócios da Bolsa. Foi o segundo dia seguido que o Ibovespa, principal referência do mercado, fechou em queda (-0,88%, aos 69.918 pontos) por causa dos papéis da Petrobras.

Em apenas dois dias, as ações da companhia caíram 6,84%, no caso da ON, e 6,23% da PN. Os papéis da empresa fecharam pelo segundo dia seguido com cotação abaixo do preço da megaoferta de ações da companhia, feita em setembro e na qual a empresa captou R$120 bilhões. Na operação, a ação ON saiu a R$29,65 e a PN, a R$26,30. O fechamento das ações ontem ficou 4,51% e 3,80% menor, respectivamente.

Esta semana, relatórios da Itaú Corretora, do banco britânico Barclays e do americano Morgan Stanley já tinham reduzido a recomendação para as ações da companhia, puxando para baixo o preço dos papéis.

- Não pesaram só os relatórios dos bancos que revisaram as recomendações para a Petrobras. Tem algo mais para provocar a queda. O boato que corre é que reportagem de uma revista semanal mostrará denúncias envolvendo a Petrobras - afirmou um operador de mercado que pediu para não ser identificado.

Houve quem citasse o clássico "efeito manada" para explicar a queda nas ações da Petrobras ontem, que acontece quando um grande número de investidores segue um mesmo movimento, de compra ou venda de uma ação. No caso de ontem, o pânico acabou fazendo os investidores venderem as ações da companhia, exacerbando a trajetória de queda.

O gestor de renda variável da Vetorial Asset Management, Fernando Belaciano, disse que houve um nervosismo no mercado e muita especulação. Rumores de escândalo, lembra, deixam mais uma vez a empresa sob os holofotes do mercado.

- O mercado ainda não digeriu tão bem a megaoferta e veio essa notícia negativa (os rumores de denúncias) - apontou.

Outro analista lembra que as ações da estatal já incluem um risco de ingerência política nas decisões da empresa. Mas que as preocupações aumentaram após a conclusão da capitalização da Petrobras. Com a operação, a participação do governo no capital social da companhia subiu de 39,8% para 48,3%, considerando as participações de União, BNDESPar, BNDES e Fundo Soberano. Isso significa que a participação dos demais investidores foi diluída.

- É preciso lembrar que o preço dos papéis já considera um risco político. Por ser uma empresa com participação do governo, pode ser usada como instrumento - aponta o analista.

No ano, ações da Petrobras acumulam queda de até 30,70%

Com os rumores, ganharam força também comentários sobre uma possível vitória do candidato José Serra. Até então, a campanha para o primeiro turno não havia tido repercussão no mercado financeiro, o que não se viu em eleições passadas.

O chefe da mesa da HSBC Corretora, Frederico Soares, destaca, no entanto, que o volume de ações da Petrobras no mercado aumentou demais devido à capitalização. Foram 4,3 milhões de ações a mais sendo negociadas.

- Não tem comprador para tanto papel no mercado. Todo mundo aderiu fortemente à oferta da Petrobras, ampliando a participação da empresa na carteira. É a regra básica da oferta e da demanda - afirma.

Questionada sobre a movimentação dos papéis e os rumores que abalaram o mercado, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM, órgão que fiscaliza e regulamenta o setor) informou que "acompanha e analisa as informações divulgadas envolvendo companhias abertas e adota as medidas cabíveis quando necessário".

Por causas das incertezas com o processo de capitalização - cujas regras levaram um ano para serem definidas -, os papéis da Petrobras sofrem uma queda expressiva no ano. A ação ordinária (ON, com voto) cai 30,70%, enquanto a preferencial (PN) recua 29,51%.