Título: Lula diz que Petrobras é transparente, mas nem tanto
Autor: Almeida, Cássia; Batista, Henrique Gomes
Fonte: O Globo, 08/10/2010, O País, p. 4
Presidente critica governos anteriores por não terem incentivado indústria naval
O PRESIDENTE desce as escadas do navio plataforma P-57, que tem capacidade de produzir 180 mil barris diários de petróleo e começa a operar em novembro
ANGRA DOS REIS. Transparente, mas nem tanto. Foi dessa maneira que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva classificou a situação da Petrobras, durante o batismo da Plataforma P-57, ontem, em Angra dos Reis. Em discurso de improviso, o presidente afirmou que a Petrobras recuperou o sentido de empresa brasileira, "porque teve um tempo que a diretoria da Petrobras achava que era o Brasil que pertencia à Petrobras, não era a Petrobras que pertencia ao Brasil":
- A ponto de ter presidente que falava que a Petrobras era uma caixa preta, que ninguém sabia o que acontecia lá dentro. No nosso governo ela é uma caixa branca, e transparente. Nem tão assim, mas é transparente. A gente sabe o que acontece lá dentro e a gente decide muitas das coisas que ela vai fazer.
A crítica de que a estatal é uma caixa preta remonta o início dos anos 1990, ainda durante o governo do presidente Itamar Franco. Vários ministros fizeram a crítica. Essa queixa voltou a aparecer durante a instalação da CPI da Petrobras em 2008.
Mesmo criticando a transparência relativa da estatal, Lula destacou a maior produção nacional na fabricação da plataforma. A P-57 teve 68% de conteúdo nacional, mas o casco do navio plataforma com capacidade para produzir 180 mil barris diários foi adaptado em Cingapura.
Presidente critica outros governos
Lula criticou governos anteriores por terem optado pela importação de plataformas, afirmando que a decisão de produzir aqui também visava a recuperar a auto-estima do brasileiro:
- Um país que não exercita a capacidade intelectual do seu povo, a capacidade profissional da sua gente, é um país que vai sendo tratado como se fosse um país insignificante.
Lula afirmou que trabalhadores especializados da indústria naval de Angra, "em vez de estarem construindo navios ou plataformas em qualquer lugar do Brasil, estavam vendendo cerveja, dentro de isopor, nas praias do Rio de Janeiro".
O presidente tentou tranquilizar os trabalhadores, afirmando que continuará a pressionar para que a construção naval continue forte no município:
- Vocês aqui, de Angra, não tenham medo, não. Quando eu não estiver presidente da República e for apenas um cidadão brasileiro, ai dos companheiros da Petrobras se não trouxerem plataformas para cá.