Título: Eletrodoméstico em extinção
Autor: Tavares, Mônica
Fonte: O Globo, 11/10/2010, Economia, p. 17

Produção de aparelho que gasta muita energia será proibida em 2011 e venda, em 2013

BRASÍLIA

O governo começa a proibir, a partir do próximo ano, a produção e a comercialização de eletrodomésticos aquecedores de água e gás, fornos e fogões a gás, condicionadores de ar, refrigeradores e congeladores que consomem muita energia. O Programa de Metas dos Eletrodomésticos, criado em 2001 durante o racionamento de energia, fixará a data limite para a fabricação ou importação dos produtos em 31 de dezembro de 2011. E, a partir de janeiro de 2013, nenhum deles poderá ser vendido no país. O uso de um único equipamento mais eficiente pode reduzir a conta de luz em até R$ 188,32 ao ano caso da instalação de um aparelho de ar-condicionado Split com selo Procel.

Caberá ao Instituto de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Inmetro) fazer a fiscalização, o acompanhamento e a avaliação do cumprimento das metas. O ministro de Minas e Energia, Márcio Zimmermann, disse que o Plano de Expansão do setor para 2030 prevê que 10% do consumo de eletricidade serão atendidos com medidas de eficiência energética. Por isso, é importante a produção de equipamentos que consomem menos: Eles vêm sendo privilegiados em todo o mundo, porque têm um impacto muito grande.

O programa federal não prevê a substituição dos aparelhos gastadores que os consumidores têm em casa. Mas a possibilidade de economizar com a troca, ao longo do tempo, é um atrativo com o qual o governo conta. No caso do ar-condicionado tipo Split, de uso residencial, a queda mensal do consumo de energia é de até 75 kWh/mês ou de R$ 36,30 mensais.

O aparelho eficiente de 12.000 Btu/hora custa R$ 1.699 na loja, cerca de R$ 250 a mais do que o tradicional.

O consumidor recupera sua opção pela eficiência em sete meses de uso.

O investimento inteiro se paga com nove anos de consumo.

Geladeira consome menos R$ 116

A diferença entre um refrigerador de uma porta com 15 anos e um novo, com selo Procel de eficiência, pode chegar a R$ 116,13 por ano na conta de luz. A opção pela eficiência também gera economia para a sociedade. A substituição das lâmpadas incandescentes pelas fluorescentes compactas chega a 5.544 GWh/ano ou 6% da produção anual da Usina de Itaipu.

Esta energia é suficiente para atender 3.031.496 residências por um ano.

A funcionária pública Jaylene Ferreira, de 45 anos, mora em uma casa com quatro quartos e quatro banheiros, com o marido e os três filhos adolescentes. Segundo ela, é muito difícil economizar energia. A conta de luz este mês foi de R$ 167, mas já chegou até a R$ 191. Ao comentar sobre o tempo de uso dos eletrodomésticos, ela disse que o mais antigo é o freezer, que comprou antes do apagão de 2001.

Jaylene afirma que desliga vários aparelhos durante a noite. A geladeira tem cerca de dez anos. Por outro lado, o fogão é novo. Na cozinha, ela possui ainda um forno de microondas e um forno elétrico, com cerca de quatro anos, comprados na mesma época. Ao ser perguntada por que não comprava produtos mais novos, que consomem menos energia, disse: Vontade eu tenho, mas falta dinheiro.

Mesmo sem a troca, porém, é possível diminuir o peso do uso dos eletrodomésticos no bolso. O gerente de Suporte ao Programa Nacional da Racionalização do Uso dos Derivados do Petróleo e do Gás Natural (Conpet) , Lucio Cesar de Oliveira, disse que atualmente existem 650 modelos de fogões e fornos domésticos a gás no mercado brasileiro.

Destes, cerca de 400 modelos tem o Selo Conpet de eficiência. Dos 300 modelos de aquecedores de água a gás, 220 receberam o selo.

Um fogão novo com o Selo Conpet é 20% mais eficiente do que um modelo antigo. Segundo o gerente, se uma pessoa optar por um fogão com o selo e tiver hábitos de consumo de uso eficiente do equipamento, poderá economizar cerca de 20% no consumo de gás. O custo de um fogão popular, de cerca de R$ 400, poderia ser coberto em até cinco anos com esta economia: A aquisição de um fogão com o Selo Conpet equivale a ganhar, anualmente, em torno de dois meses a mais do consumo de gás da família.

Ele disse ainda que, para garantir a segurança e a eficiência energética, é recomendável fazer revisões nos equipamentos a cada dois anos. O técnico dá uma dica para verificar se o fogão está funcionando bem: prestar atenção na cor da chama do gás, que dever ser sempre azulada. Se estiver amarelada, indica que os queimadores podem estar desregulados ou sujos, consumindo mais gás.

Indústria do país já vem se adaptando

Dentro do programa de eficiência, os fabricantes terão que fazer adaptações em suas plantas industriais, segundo a Eletrobras. Mas Oliveira explica que as novas regras são informadas com antecedência, e a indústria vem se adaptando há algum tempo. Portanto, não há justificativas para que os novos produtos sejam mais caros.

As novas normas estão sendo estudadas pelo governo, indústria e Inmetro e estão passando por consultas públicas no país e na Organização Mundial do Comércio (OMC), já que a proibição atingirá produtos importados também. No próximo dia 19, acontece a audiência pública no Ministério de Minas e Energia.