Título: Emprego nos países ricos só retornará ao patamar pré-crise em 2015, diz OIT
Autor: Nogueira, Danielle
Fonte: O Globo, 12/10/2010, Economia, p. 24

Mundo teria de criar 22 milhões de vagas para anular efeitos da turbulência

Com o atual ritmo de recuperação da economia global, os países ricos só verão o nível de emprego voltar ao patamar pré-crise em 2015, segundo o relatório anual da Organização Internacional do Trabalho (OIT) ¿World of Work Report¿, divulgado no fim de setembro. Na edição anterior, a estimativa era que isso ocorresse em 2013. Com esse atraso, o déficit de postos de trabalho em relação ao período anterior à turbulência financeira alcançará o patamar 22 milhões no ano que vem. Em outras palavras, esse é o número de vagas que teriam de ser criadas até 2011 para anular o fechamento de postos de trabalho desde o estouro da crise, em setembro de 2008.

A OIT atribui o retrocesso no mercado de trabalho nas nações avançadas, como EUA, França e Espanha, à revogação prematura das políticas expansionistas adotadas logo após o início da crise. Segundo a organização, a preocupação dos governos com o elevado endividamento público os levou a remover incentivos fiscais antes do previsto, provocando danos ao mercado de trabalho.

Mercado interno liderou retomada nos emergentes

Os EUA, por exemplo, que em agosto de 2008 exibiam um índice de desemprego de 6,1%, viram a taxa subir para 9,5% em agosto de 2010. Na Espanha, o índice, que já era alto, praticamente dobrou no período, de 11,3% para 20,5%.

O diretor do Instituto de Economia da UFRJ, João Saboia, frisa que os altos índices de desemprego refletem as incertezas na economia dos países ricos:

¿ Houve uma expectativa de recuperação que não se confirmou. Essa incerteza se reflete no mercado de trabalho. Ao contrário do que vem ocorrendo com os países em desenvolvimento, como Brasil, China e Índia. Nesses países, o mercado doméstico forte reduziu a dependência das exportações, permitindo uma rápida recuperação da economia e, consequentemente, do mercado de trabalho.

No relatório da OIT, os países emergentes e em desenvolvimento aparecem em uma situação bem mais confortável que os ricos. Segundo o documento, regiões como América Latina e Ásia estão em plena recuperação e devem retornar ao nível de emprego pré-crise já este ano, como previsto na edição anterior.

No Brasil, desafio é reduzir a informalidade

O Brasil é um dos países que se recuperaram rapidamente. A taxa de desemprego está ainda menor que a verificada antes da crise. Em agosto deste ano, caiu a 6,7%, o menor patamar da série histórica do IBGE, iniciada em março de 2002. Em agosto de 2008, um mês antes do agravamento da crise, o índice estava em 7,6%.

André Campos, economista do Ipea, cita outro dado para mostrar como o mercado de trabalho brasileiro está aquecido. Segundo ele, a diferença entre o salário que um trabalhador ganha quando admitido numa empresa e quando se desliga dela está em R$64,01, considerando a média entre janeiro e agosto de 2010. O valor é próximo à média de R$60,79 referente ao período de janeiro a agosto de 2008, a menor já registrada.

¿ Isso mostra que os empregadores estão deixando de substituir funcionários que ganham mais por outros que ganham menos. A decisão de sair da empresa tem partido do trabalhador, não da empresa.

A dificuldade, agora, é reduzir a informalidade, que atingiu 32,6% entre janeiro e agosto de 2010. Embora menor que os 39,3% de igual período de 2008, o índice é considerado alto.