Título: Na Petrobras, comparação é difícil
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Fonte: O Globo, 12/10/2010, O País, p. 12
Estatal tem lucro maior, mas mercado mundial de petróleo está diferente
No debate da noite de domingo, Dilma Rousseff, candidata do PT à Presidência, disse que encontrou a Petrobras com dificuldades e que havia até planos para vender partes da estatal. Mas a comparação entre a Petrobras de hoje e a de 2002 é difícil, segundo especialistas, por causa de variáveis como o preço internacional do petróleo, a demanda mundial e a evolução de investimentos de longo prazo.
¿ É muito difícil fazer uma análise conclusiva sobre uma empresa como a Petrobras, comparando dois períodos. O mercado mundial é outro, e as empresas petrolíferas dependem muito do cenário global ¿ afirmou Mônica Araújo, estrategista da Ativa Corretora.
Segundo Dilma, a Petrobras está em melhor situação agora, no fim do governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Presidente do Conselho de Administração da estatal até abril, Dilma afirmou ainda que, quando o PT chegou ao governo federal, encontrou na Petrobras um plano de fatiamento e venda de unidades produtivas, como a Refinaria de Duque de Caxias (Reduc) e atividades relacionadas à produção de fertilizantes, que teria sido feito sob a gestão do PSDB.
Mas Mônica diz que uma análise para saber se a Petrobras está ¿pior¿ ou ¿melhor¿ é superficial.
Agora, a estatal conta com uma nova perspectiva, a exploração do óleo na camada do pré-sal, mas isso só foi possível porque houve planejamento e pesquisas iniciadas há muito tempo, ainda na gestão tucana ¿ ou até mesmo na década de 80. Os investimentos estão maiores, mas, por outro lado, a dívida também cresceu.
¿ Há uma série de questões que podem tirar a análise do contexto, como o preço do barril de petróleo, que agora está muito mais alto que no passado ¿ diz a especialista.
Os dados oficiais da empresa permitem diversas leituras. O endividamento da empresa, que fechou 2002 representando 19% de seu faturamento, subiu para 31% no exercício de 2009, uma alta de 63,5% no período.
Entretanto, esse dado, negativo a princípio, pode ser explicado pelo aumento dos investimentos, que passaram de US$ 6,435 bilhões em 2002, último ano da gestão tucana, para US$ 35,134 bilhões em 2009.
Empresa não responde sobre suposto fatiamento O faturamento da empresa passou de R$ 99,2 bilhões em 2002 para R$ 230,5 bilhões em 2009, alta de 132,4%. Esse crescimento é explicado, em parte, pela expansão da produção ¿ que passou de 1,5 milhão de barris diários de petróleo, em 2002, para 1,971 milhão no ano passado, alta de 31,4% ¿ e pelo preço mundial do barril, que passou da média de US$ 24,95, em 2002 para US$ 61,78, no ano passado. No período, a empresa, que antes não fabricava biodiesel, passou a produzir 326 mil metros cúbicos do combustível ano passado.
O lucro da Petrobras, que foi de R$ 8,1 bilhões em 2002, passou para R$ 29 bilhões no ano passado, alta de 258% no período. A lucratividade da empresa, ou seja, a taxa entre lucro e faturamento, passou de 8,16% no último ano tucano para 12,5% em 2009.
Em relação à denúncia de Dilma de que a antiga gestão da estatal pretendia dividir a empresa e vender diversos ativos, como a Reduc, a estatal preferiu não se manifestar, e não respondeu se esse plano realmente existia. O candidato do PSDB à Presidência, José Serra, por sua vez, não respondeu sobre a questão durante o debate, mas fez questão de reafirmar que nunca disse ser favorável à venda do controle da empresa à iniciativa privada.
Ele afirmou que, se eleito, vai for talecer a estatal, fazer mais concursos e reduzir o número de terceirizados.