Título: Papéis invertidos
Autor: Suwwan, Leila; Freire, Flávio
Fonte: O Globo, 12/10/2010, O País, p. 3

Dilma deve partir para o ataque até o fim, enquanto Serra planeja evitar subir o tom

O primeiro confronto direto do segundo turno entre Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) estabeleceu a tônica das duas campanhas para as próximas semanas, na qual deve perdurar a inversão de papéis dos candidatos. De acordo com as respectivas coordenações de campanha, a petista deve manter a postura ¿assertiva¿, enquanto Serra evitará acompanhar a escalada ¿ a lição foi aprendida quando Geraldo Alckmin despencou nas urnas após atacar o presidente Lula no segundo turno das eleições de 2006.

Mesmo sob pressão do PT, o comando de comunicação da campanha tucana não pretende subir o tom daqui em diante, ao contrário da estratégia adotada até então, quando o foco estava nos escândalos envolvendo a Casa Civil. O publicitário Luiz Gonzalez admitiu que o partido tem preocupação de evitar danos eleitorais. Sobretudo, por conta do rescaldo político da última eleição.

¿ Na época, vieram me parabenizar, perguntavam até se eu tinha dado Viagra ao Alckmin.

E deu no que deu: dias depois do debate, ele já estava em queda ¿ disse Gonzalez.

¿Esse discurso agressivo é para dentro do PT¿

A ideia, a partir de agora, é se igualar ao tom adotado por Dilma apenas quando as críticas colocarem Serra numa situação delicada como administrador público. Partir para o confronto apenas com relação a números, e evitar ao máximo cair em provocação da adversária.

¿ Esse discurso agressivo da Dilma é um discurso para dentro do próprio PT, não replica nos eleitores. E não vamos entrar nessa ¿ afirma o marqueteiro tucano.

Há, porém, pressão da ala política para que Serra parta para o confronto. Líderes tucanos avaliam que o candidato não pode parecer intimidado pela petista. Os dirigentes só esperam uma avaliação do tracking interno para saber se realmente esse tipo de postura não afasta eleitores.

¿ Temos que mostrar nossa indignação com o descomando deste governo, com toda essa corrupção. O que não podemos é mostrar raiva, ódio, que é o que está acontecendo na campanha do PT ¿ disse Sérgio Guerra, presidente do PSDB.

Já a cúpula da campanha de Dilma Rousseff calculou cuidadosamente a nova postura da candidata ontem, inclusive na montagem da artilharia utilizada no debate.

Apesar da avaliação inicial de que Dilma deveria adotar o ¿paz e amor¿, a campanha decidiu que essa estratégia caberá a Lula, que não pode perder seu capital político. A presidenciável, por outro lado, estaria sofrendo perdas diretas com as críticas que colocam em dúvida sua autonomia, confiabilidade e capacidade. Se não respondesse, poderia estimular a pecha de ¿cumplicidade¿ e ¿fraqueza¿.

Segundo a avaliação que o marqueteiro João Santana repassou à campanha do PT, não houve o efeito negativo temido do fator ¿agressividade¿, ou ¿quem bate perde¿.

As palavras de ordem no núcleo petista eram: ¿incisividade¿ e ¿assertividade¿.

Os petistas já unificaram o discurso em torno desse tema.

Segundo José Eduardo Dutra, presidente do PT, é esperado mostrar indignação quando se está sob ataque. O ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, confirmou que esta será a tônica do segundo turno. Até coordenadores mais distantes, como Renato Rabelo (PCdoB), afirmaram: ¿ Será agora uma campanha de embate frontal, onde ninguém poderá dizer que Dilma é uma marionete. Ela é ela mesma. Tem cabeça própria.