Título: Especulador George Soros confirma tese de Mantega sobre guerra cambial
Autor: Eichenberg, Fernando
Fonte: O Globo, 09/10/2010, Economia, p. 34

Ministro da Fazenda defende que países ricos retomem estímulo fiscal Correspondente

WASHINGTON e LONDRES. Em sua campanha contra a guerra cambial no mundo, o ministro da Fazenda brasileiro, Guido Mantega, ganhou ontem um aliado inesperado: o megainvestidor ¿ e especulador ¿ George Soros.

Em artigo publicado ontem no jornal britânico ¿Financial Times¿, Soros afirmou que, quando Mantega diz que há hoje a guerra no câmbio latente, ¿não está longe da realidade¿.

Soros ¿ que ficou conhecido como ¿o homem que quebrou o Banco da Inglaterra¿ ao lucrar US$ 1,1 bilhão com a desvalorização da libra, em 1992 ¿ disse estar preocupado com o desalinhamento das moedas. Para ele, a solução para a crise está nas mãos da China, ¿que emergiu como líder global¿.

Mantega critica China por acumulação de reservas Em Washington para a reunião anual de Fundo Monetário Internacional (FMI) e Banco Mundial (Bird), Mantega acusou ontem os países ricos de adotarem políticas equivocadas depois da crise financeira e favorecerem a guerra cambial. Para ele, países como Estados Unidos e Alemanha deveriam abandonar políticas monetárias agressivas ¿ com baixas taxas de juros e injeção de recursos na economia ¿ e retomar o estímulo fiscal para incentivar a criação de empregos e o consumo doméstico.

¿ A guerra cambial é um subproduto da lenta recuperação econômica em países avançados ¿ disse Mantega.

¿ É a política do salve-se quem puder, jogar o problema para os outros. É preciso recolocar a política fiscal de estímulo direto à demanda e à criação de emprego, em vez de usar a guerra cambial, que nada mais é que uma disputa de mercados, que leva ao conflito comercial e ao protecionismo.

Mantega também criticou o comportamento da China, com sua ¿política de compra de reservas e limitação de capital estrangeiro, sem permitir a valorização de sua moeda¿. Ele vai levar essas questões hoje à reunião do Comitê Monetário e Financeiro Internacional (IMFC): ¿ O fato de eu falar em guerra cambial chocou algumas pessoas. Só mencionei algo que já existia, mas era deixado debaixo do tapete. Agora já estamos discutindo abertamente o que é hoje a principal pauta da agenda econômica.

Reforma do FMI não beneficia totalmente os emergentes O ministro acredita na possibilidade de discutir um acordo coletivo na reunião do G-20 (que reúne as principais economias industrializadas e emergentes) em Seul, em novembro. Também em Washington, o presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, expressou preocupação com a guerra cambial, que está provocando desequilíbrios no mundo: ¿ Este é um problema sério.

Precisa ser enfrentado.

Ele descartou uma nova recessão econômica, porque se conseguiu controlar a crise financeira, mas alertou para o risco de crescimento fraco.

Hoje o FMI também vai discutir a reforma de seu sistema de cotas, na qual os emergentes buscam ter mais voz no organismo.

Mantega observou que a maioria das propostas prevê que alguns países emergentes percam espaço para outros: ¿ Ou seja, não está saindo tudo dos países avançados. Criticaram essa posição Brasil, Índia, Turquia, África do Sul e Rússia.

O diretor-gerente do FMI, Dominique Strauss-Kahn, acredita que é possível chegar a um acordo sobre cotas nas próximas duas semanas.

(*) Com agências internacionais