Título: Natal com sotaque estrangeiro
Autor: Rodrigues, Lino; Gomes, Wagner
Fonte: O Globo, 09/10/2010, Economia, p. 33

Desvalorização do dólar reduz preço e aumenta variedade de importados. Já há carros em falta

SÃO PAULO

A forte queda do dólar frente ao real não vai garantir apenas uma ceia de Natal com produtos importados mais baratos. A oferta será maior e com mais variedades de itens de alimentos e bebidas a itens de vestuário e eletroeletrônicos, segundo o setor varejista. O lombo do bacalhau imperial, um corte nobre e caro do peixe, por exemplo, já custa metade do que há um ano e deve cair ainda mais até dezembro. Sandro Benelli, diretor de importações e exportações do Grupo Pão de Açúcar (que inclui as bandeiras Extra, Compre Bem, Sendas e Assaí), diz que as mercadorias importadas estarão em média 10% mais baratas neste Natal, se comparadas ao ano passado.

O real valorizado também deve garantir a festa dos carros importados neste fim de ano. De acordo com a Abeiva, associação que reúne os importadores independentes de veículos no país, as vendas devem dobrar em 2010, passando das 42 mil unidades em 2009, para 90 mil este ano. No início do ano, a taxa de câmbio para a conversão dos preços dos carros vendidos que chegavam aqui tinha como base o dólar a R$ 1,80. Agora, segundo a entidade, a conversão é feita a R$ 1,67. Com preços em baixa, a demanda está maior que a oferta e já faltam carros das algumas marcas, como os da coreana Kia, cujos modelos custam a partir de R$ 60 mil, e as vendas cresceram 150% entre janeiro e setembro.

¿ Será inevitável um aumento dos produtos importados no mix do varejo ¿ prevê o assessor econômico da Federação do Comércio de São Paulo (Fecomércio), Altamiro Carvalho.

Grupo espera vender 30% mais

O Pão de Açúcar espera que a venda de produtos importados na rede cresça 30% neste Natal no embalo da valorização do real. A antecipação das compras, cujas negociações começaram ainda em 2009, no entanto, não permitirão quedas ainda maiores nos preços.

¿ O preço poderia ser menor, mas há alguns fatores que impediram essa redução. O frete subiu e alguns produtos, como a pera americana, tiveram problemas de safra ¿ explicou Benelli.

Uma redução mais significativa nos preços, segundo o grupo, chegará às gôndolas a partir de março do ano que vem, quando começam a chegar as encomendas feitas agora, momento em que dólar experimenta recordes de baixas. Itens tradicionais da ceia de Natal, como bacalhau, vinhos e frutas secas, foram encomendados no primeiro semestre deste ano, quando a moeda americana estava um pouco mais valorizada. Brinquedos e decorações de Natal foram encomendados com mais antecedência ainda, há cerca de um ano.

¿ Em alguns casos, como o bacalhau, nós vamos diretamente ao país produtor, no caso a Noruega, e conseguimos preços melhores, mas nem tudo é desse jeito. Por isso, os preços podem não estar tão baixos ¿ disse o executivo.

No caso dos automóveis, a Anfavea, entidade que reúne as montadoras com fábricas no país, informa que a participação dos veículos importados, que foi de 13,3% nas vendas totais no mercado interno em 2008, e saltou para 15,6% em 2009, até setembro já estava em 18,1%.

A previsão é de que a fatia de importados nas vendas de carros no país feche o ano em torno dos 20%.

Segundo a Anfavea, cujas estatísticas incluem os carros dos associados da Abeiva e os trazidos pelas montadoras instaladas no Brasil, as vendas de importados crescerem 34,3% entre janeiro e setembro, alcançando 451,6 mil unidades.

Comércio prevê reação da indústria

Embora reconheça que o país pode ter problemas no futuro em função dos desequilíbrios que a atual taxa cambial pode causar, o presidente da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), Alencar Burti, diz que o comércio e os consumidores terão um fim de ano muito favorável com o real forte.

¿ As importações vão crescer muito, provocando uma reação forte do setor industrial que vai pressionar por medidas para conter esse aumento de bens de consumo importados ¿ disse Burti.