Título: Mantega: desequilíbrio leva à guerra comercial
Autor: Eichenberg, Fernando
Fonte: O Globo, 10/10/2010, Economia, p. 37

Retirada de incentivos foi prematura, diz WASHINGTON. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, voltou a criticar ontem as políticas de recuperação econômica adotadas pelos países mais avançados. Em seu pronunciamento na reunião do Comitê Financeiro e Monetário Internacional (IFMC), ele recomendou o retorno das políticas de estímulo fiscal nas economias mais desenvolvidas, para expandir o consumo doméstico e lutar contra o desemprego.

¿ Falta demanda, falta o consumidor voltar ao mercado.

Houve uma desativação prematura dos estímulos.

Portanto, eles deveriam retomar os estímulos fiscais.

Este desequilíbrio é o que leva à guerra comercial, à guerra cambial, e também ao protecionismo ¿ afirmou em entrevista após a reunião.

O ministro recebeu apoio do diretor-geral da Organização do Comércio (OMC), Pascal Lamy, mas apenas incertezas da parte dos países avançados. O presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Ben Bernanke, manifestou preocupação em seguir a receita brasileira de retomada de políticas fiscais devido a ¿resistências internas¿.

¿ Ele disse que os impostos que haviam sido reduzidos por Bush (George W.

Bush, ex-presidente dos EUA) vão voltar no início do ano que vem, então a situação pode até piorar ¿ contou Mantega.

Segundo ele, o diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn, concordou com a necessidade de retomada de políticas fiscais.

¿ Ele disse que isto deve ser feito em algum momento, em alguns países. É claro que não em todos.

Além desta questão, o tema da ¿guerra cambial¿ deve segundo ele, ser colocado como pauta prioritária nas discussões do G-20, grupo que reúne as 20 principais economias do mundo.

Sobre a conclusão do encontro, disse que os estudos feitos pelo FMI revelaram que a crise mundial ainda não foi superada e apresenta ameaças: ¿ A recuperação é mais lenta do que se esperava, e isto está levando a desequilíbrios entre (países) avançados e emergentes, com problemas de fluxo de capital, de natureza cambial, como os que venho apontando. (Fernando Eichenberg)