Título: Líderes pedem ação do FMI contra protecionismo
Autor: Eichenberg, Fernando
Fonte: O Globo, 10/10/2010, Economia, p. 37
Ministros de Finanças querem maior vigilância do Fundo sobre o câmbio, para evitar distorções no comércio global
Correspondente
WASHINGTON. A chamada ¿guerra cambial¿ ¿ expressão cunhada pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, para denunciar atuais tensões mundiais provocadas por intervenções nas moedas nacionais ¿, dominou os debates de ontem no encontro do Fundo Monetário Internacional (FMI) e do Banco Mundial, sem que se tenha alcançado, no entanto, um resultado concreto. Enquanto líderes globais pediam um papel mais ativo do Fundo para aliviar as tensões cambiais e evitar protecionismos, China e EUA trocavam críticas quanto à política monetária de Pequim, num sinal de que a ¿guerra cambial¿ não terá fim tão cedo.
O secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Timothy Geithner, aumentou a pressão para que a China abandone a desvalorização artificial do yuan frente ao dólar, política que vem causando distorções no comércio mundial. Em seu discurso preparado para a reunião do Comitê Financeiro e Monetário Internacional (IFMC), Geithner deu um recado direto a Pequim, sem citá-la nominalmente: ¿ Países que cronicamente estão com grandes superávits precisam adotar políticas para impulsionar a demanda doméstica.
É preciso ver mais avanço na maioria dos países emergentes para um câmbio mais flexível, mais orientado pelo mercado. Isso é particularmente importante para aqueles países cujas moedas estão significativamente depreciadas ¿ afirmou Geithner, ao solicitar supervisão maior e mais rigorosa do FMI sobre as práticas cambiais mundiais.
Em resposta, o presidente do Banco Central da China, Zhou Xiaochuan, suavizou os efeitos da política monetária chinesa: ¿ De janeiro a agosto de 2010, o superávit comercial caiu 14,7% em relação ao mesmo período do ano passado; o aumento das reservas desacelerou; o sistema financeiro esteve estável e o yuan experimentou moderada apreciação.
No comunicado oficial divulgado ontem, o tom das críticas foi mais brando. Mas procurouse reforçar o papel do Fundo na supervisão da economia global, de modo a evitar o protecionismo.
¿É urgente a necessidade de mais ação para reforçar o papel da instituição e sua eficiência como um organismo global para vigilância macrofinanceira e colaboração de políticas¿, diz a nota. O FMI também apontou a luta contra o protecionismo como um elemento chave para uma resposta coordenada para a crise e definiu a recuperação econômica como ¿ainda frágil¿.
Strauss-Kahn: conflito cambial é questão imediata Para o diretor-gerente do Fundo, Dominique Strauss-Kahn, ¿guerra cambial¿ é uma expressão ¿muito forte¿ e redutora em relação às dificuldades experimentadas no processo de recuperação econômica pós-crise.
Na sua avaliação, há um problema de longo prazo, de reequilíbrio do crescimento econômico mundial; e um de curto prazo, de conflitos cambiais imediatos.
Ele insistiu em ações coordenadas dos países para a retomada do crescimento.
¿ Linguagem é ineficaz. Políticas têm de ser adotadas. Podemos falar e falar sobre isto, mas precisamos de ação. E não acredito que as ações possam ser tomadas de outra maneira que não via cooperação.
E o ministro das Finanças do Egito e presidente do IMFC, Youssef Boutros-Ghali, disse que um acordo para a Europa ceder duas cadeiras no comitê executivo do Fundo está próximo. Isso faz parte da reforma do FMI para dar mais voz aos emergentes.
Enquanto os líderes se reuniam a portas fechadas, manifestantes da Rede de Resistência ao FMI protestavam na Praça da Liberdade, em Washington. Eles defendem a extinção do Fundo.
(Com agências internacionais)