Título: Embate pelo espólio de Mangabeira
Autor: Rothenburg, Denise
Fonte: Correio Braziliense, 08/07/2009, Política, p. 6

De um lado, Casa Civil quer manter a equipe de 97 funcionários do ex-titular da Secretaria de Assuntos Estratégicos. De outro, PRB tenta fincar raízes na pasta

Marcelo Crivella pretende apresentar a Lula três nomes ligados ao PRB

Nos bastidores do governo Lula trava-se uma guerra pelo espólio do ex-ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos Mangabeira Unger. A Casa Civil, comandada pela ministra Dilma Rousseff, defende a ideia de Mangabeira, de manter a estrutura e o ministro Daniel Vargas, que era o secretário-executivo. Da parte do PRB do senador Marcelo Crivella (RJ) está em curso uma manobra para tentar colocar ali a marca do partido.

A turma do PRB, com Crivella à frente, vai apresentar ao presidente Lula três nomes: João Sicsú, economista da Universidade Federal do Rio de Janeiro, ligado ao senador; José Carlos de Assis, também economista, hoje no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, indicado por Crivella. O terceiro nome é o do diplomata Samuel Pinheiro, secretário-executivo do Ministério de Relações Exteriores.

Conhecido como o petista número um da diplomacia brasileira, o embaixador Samuel Guimarães deixará o Itamaraty em outubro, quando completará 70 anos. Em recente jantar que reuniu políticos e diplomatas no Rio de Janeiro, ele fez discurso elogiando o senador Marcelo Crivella. Os dois são amigos e Guimarães terminou incluído na lista do PRB como uma forma de o partido dizer que continua com o cargo e, ao mesmo tempo, ter no rol de opções um nome conhecido e do agrado do presidente Lula. Também serve para contornar as objeções da Casa Civil ao PRB.

Embora Mangabeira tenha assumido o cargo como um nome do PRB do vice-presidente José Alencar, ele, na verdade, chegou ao governo levado por João Santana, marqueteiro do presidente Lula, de quem é amigo. Como depois do convite houve forte reação do PT, por conta das declarações do ministro a respeito do primeiro mandato do governo Lula, o PRB entrou como ¿barriga de aluguel¿. Mangabeira deve inclusive se desfiliar do partido.

Nos bastidores, o ex-ministro tem trabalhado pela manutenção da equipe, um grupo que chegou com ele ao posto, criado em 2007. Com orçamento de R$ 7,7 milhões para este ano e 97 funcionários, a Secretaria de Assuntos Estratégicos é uma enciclopédia dos ministérios de Lula. Tem uma memória do que cada um está fazendo. Até porque, como primeira tarefa, Mangabeira colocou seu pessoal para visitar os ministérios e descobrir os programas em curso para fazer projeções.

Por isso, passou a chamar a atenção dos governadores e dos políticos, principalmente depois de ser escalado para definir o projeto estratégico para a Amazônia, a forma que o presidente Lula encontrou de colocar novamente em campo a bola presa entre o Ministério do Meio Ambiente, na época comandado pela senadora Marina Silva, e o da Agricultura. De lá saíram também propostas para a educação e o projeto Nordeste, que o presidente Lula deve discutir com os governadores este mês. O PRB, além de fazer muitos desses projetos, quer que a pasta passe a executar os projetos. Se crescer o olho, Dilma vai ficar com Daniel Vargas.

O número R$ 7,7 milhões é o orçamento da Secretaria de Assuntos Estratégicos para este ano

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Memória As polêmicas do professor Cadu Gomes/CB/D.A Press - 21/5/08

No período em que ficou no governo , Mangabeira Unger conseguiu criar polêmicas com meia Esplanada. Começou com o próprio PT, que reclamou da chegada dele ao governo depois de ter dito, nos tempos do mensalão, que o governo Lula era o mais corrupto da história. Relevado o episódio, causou desgosto à então ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, quando passou a comandar o Plano Amazônia Sustentável. Há quem diga que essa foi inclusive a razão da saída de Marina da equipe ministerial.

Mangabeira também nunca se deu bem com o sucessor de Marina, o ministro Carlos Minc, que reclamou do fato de não ter sido consultado no projeto de longo prazo da Amazônia Sustentável. Até mesmo com o discreto Patrus Ananias, do Desenvolvimento Social, houve embate, quando Mangabeira criticou a ausência de portas de saída do programa Bolsa Família. Toda a equipe de Patrus correu para listar as portas de saída do programa e esclarecer que não se trata apenas de um bolsa alimentação. Mangabeira saiu do governo para voltar a lecionar na prestigiada Universidade de Harvard, nos EUA. (DR)