Título: Câmbio deixou de compensar custo Brasil
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Fonte: O Globo, 10/10/2010, Opinião, p. 6

Em 1944, quando já se vislumbrava a vitória dos aliados na Segunda Guerra Mundial sobre o eixo, uma conferência na localidade de Bretton Woods, em New Hampshire (Estados Unidos), com delegações de 44 países, definiu as bases de um novo sistema monetário mundial. O dólar passaria a ser a âncora das diferentes moedas, refletindo a hegemonia da economia americana na época.

Embora não tenham sido cumpridas à risca, as linhas mestras de Bretton Woods foram mantidas até a década de 70, quando, por decisão unilateral, os Estados Unidos desvincularam o dólar do ouro ¿ o acordo previa uma conversibilidade automática, por uma paridade fixa.

Ainda que o dólar tenha se enfraquecido, a moeda americana continuou a responder por mais de 80% das transações no comércio internacional e nas operações financei ras. O intercâmbio comercial com os Estados Unidos equivale atualmente a menos de 10% do total que o Brasil comercializa (exportações e importações) no mundo, mas mesmo assim o dólar permanece como a moeda de referência na maior parte das transações internacionais do país, inclusive com nações vizinhas da América do Sul.

Assim, a valorização do real em relação ao dólar se tornou motivo de preocupação, pela possibilidade de a produção brasileira de bens e serviços perder competitividade diante da concorrência externa.

A valorização do real se tornou meio inevitável com a melhora gradual dos fundamentos da economia, especialmente depois que o Brasil foi promovido a grau de investimento pelas agências classificadoras de risco. Enquanto a economia brasileira cresce, acompanhando outros países emergentes, Estados Unidos, Europa e Japão enfrentam dificuldades para superar os efeitos da crise financeira de 2008. Nesse ambiente, concretamente há mais razões para o real se apreciar do que para se desvalorizar, apesar de o déficit em conta corrente (mercadorias e serviços) do balanço de pagamentos do Brasil se aproximar do patamar de US$ 50 bilhões.

Medidas para desestimular a oferta de divisas no mercado brasileiro têm sido tomadas, e outras de caráter macroeconômico (como, por exemplo, uma política fiscal menos expansionista, contendo-se gastos públicos) certamente ajudariam a ateÉ nuar essa apreciação.

No entanto, para o setor produtivo brasileiro, o que poderia contrabalançar essa valorização do real seria uma redução expressiva no chamado custo Brasil. Sistemas de transporte mais eficientes, estrutura de impostos adequada (desonerando-se investimentos e exportações), acesso ao crédito em condições semelhantes aos concorrentes, qualificação da mão de obra, legislação trabalhista, etc. trariam mais benefícios aos produtores que um câmbio temporariamente desvalorizado.

O novo governo assumirá em janeiro de 2011 com esses desafios. Na infraestrutura, os dois candidatos prometem ampliar investimentos.

Tão importante quanto isso talvez seja a elaboração de políticas para se obterem os desejados ganhos de produtividade capazes de anular os efeitos negativos da apreciação cambial.

ate preciso atacar as causas internas da baixa competitividade da economia