Título: Debatido como tema religioso, o melhor seria tirar da agenda
Autor: Benevides, Carolina; Farah, Tatiana
Fonte: O Globo, 10/10/2010, O País, p. 4

Serra e Dilma discutem assunto pelo viés moral, em vez da questão da saúde e RIO e SÃO PAULO. Quando a campanha presidencial começou, a então candidata do PV, Marina Silva, foi a primeira a se posicionar sobre o aborto. Ainda em junho, Marina declarou que, se fosse eleita, faria um plebiscito para decidir sobre a descriminalização.

Na época, o assunto ainda não dominava as campanhas.

Responsável, segundo pesquisas, por ajudar a levar a eleição para o segundo turno, o aborto tem sido encarado pelos candidatos Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) a partir do viés moral e religioso.

Em suas andanças pelo Brasil e na propaganda de TV, petista e tucano repetem que são a favor da vida, e Serra tem acusado a adversária de mudar de lado: ¿Quem é a favor de repente diz que é contra por motivos eleitorais. Isso está errado¿.

Ainda ministra, em 2007, Dilma declarou em uma entrevista ser a favor da descriminalização do aborto. Este ano, já como candidata, a petista disse várias vezes que aborto era questão de saúde pública, mas que pessoalmente era contra. Em nota enviada ao GLOBO, a assessoria da candidata repete o discurso: ¿Dilma Rousseff é pessoalmente contra o aborto e não vai propor mudanças na legislação brasileira atual. (...) Mas entende que, como presidente da República, não poderá ignorar o fato de que há mulheres, jovens, adolescentes que, no desespero, no abandono, se utilizam de práticas absurdas para interromperem a gravidez. Considera que cabe ao Estado uma política de atendimento, assistência e prevenção, com uma abordagem integral no âmbito do Ministério da Saúde¿.

¿Não adianta debate superficial. Mulheres morrem¿ Serra ¿ que quando era ministro da Saúde assinou norma técnica sobre o aborto nos casos previstos na lei ¿ começou a pré-campanha dizendo-se contrário ao aborto e tem mantido a posição. O tucano também já disse que, se eleito, não vai mexer na atual legislação. Em nota ao GLOBO, a assessoria do candidato diz que ele já ¿se posicionou várias vezes contra o aborto¿.

E que em entrevistas foi categórico: ¿Por motivos de natureza pessoal, minhas crenças, valores, sou contra o aborto¿.

Pesquisadora da Universidade de Brasília e uma das responsáveis pela Pesquisa Nacional de Aborto (PNA), Debora Diniz diz que ¿é importante que o aborto esteja na pauta dos presidenciáveis, mas que deveria estar veiculado às questões de políticas públicas e de saúde da mulher¿: ¿ Debatido como tema religioso, o melhor acordo seria tirar o aborto da agenda. Melhor o silêncio do que tratar a saúde da mulher como moeda de troca.

¿ Não adianta debate superficial.

Serra fala que não mexeria na legislação porque isso levaria a uma carnificina, mas já é. Mulheres morrem. Isso é que precisa ser debatido ¿ conclui Paula Viana, do grupo Curumim.