Título: Muito além do petróleo
Autor:
Fonte: O Globo, 13/10/2010, Opinião, p. 7

No Brasil, todas as atenções estão voltadas para os investimentos da área de petróleo, que são cada vez mais impulsionados pelas descobertas de empresas como a Petrobras e OGX. No governo, praticamente só se discutem os investimentos em tecnologia quando o foco é a área de petróleo, e a grande vedete do momento foi o plano de capitalização da Petrobras.

O país vem sendo capa das maiores publicações mundiais do setor e dos jornais mais renomados, despontando como a grande referência mundial quando se fala em exploração de petróleo. Empresas do mundo inteiro têm procurado os consulados locais, com o objetivo de encontrar uma parceria milagrosa que lhes permita tomar posse de sua fatia do tão esperado petróleo brasileiro. O governo aposta todas as suas fichas no pré-sal, e espera que todos os problemas sociais sejam resolvidos pelo mercado de óleo e gás.

Com tudo isso, a atenção dedicada aos combustíveis alternativos vem diminuindo ano após ano, o que, a longo prazo, tende a tornar o país cada vez mais dependente do petróleo. Os estrategistas não parecem concordar com a máxima de ¿não colocar todos os ovos em uma mesma cesta¿, e a economia brasileira fica cada vez mais sujeita às variações nos preços do petróleo. É claro que os mais céticos dirão que as teorias apocalípticas sobre o término ou a substituição do petróleo já ultrapassam os 50 anos de existência sem que nada tenha, de fato, mudado para pior no setor, mas é sempre interessante que haja ao menos um plano B para uma situação adversa.

O resultado das contas do país está fortemente atrelado aos resultados da Petrobras, o que, enquanto a empresa tem dado bons frutos, é ótimo, mas, imaginando a possibilidade de uma queda a longo prazo no preço do petróleo, podendo inviabilizar o lucro advindo da exploração da camada pré-sal, pode se tornar um grande problema. Com grande parte do capital brasileiro fortemente atrelado ao petróleo, talvez seja a hora de avaliar os investimentos em tecnologias que propiciem um melhor aproveitamento energético dos combustíveis. Talvez seja mais barato economizar ¿ ou desperdiçar menos ¿ energia do que simplesmente procurar mais petróleo para que se possa consumir sem arrependimentos.

Sem falar nas diversas fontes alternativas de energia, que têm recebido proporcionalmente pouca atenção, como a energia eólica, cada dia mais popular, o álcool aditivado, tão utilizado em motores diesel nos anos 80 no Brasil, e ainda todas as fontes de energia advindas da biomassa. É importante o reconhecimento de que a Petrobras tem contribuído para esta diversificação das fontes energéticas, mas é preciso que outras empresas também se iniciem nesta jornada para valer.

ANTONIO MARQUES JR. é engenheiro.

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