Título: Mulheres contribuem mais para renda
Autor: Galdo, Rafael
Fonte: O Globo, 14/10/2010, O País, p. 16

Entre as casadas, 65,8% delas ajudavam nos rendimentos da família em 2009 Enquanto a população envelhece, também estão em curso significativas transformações na estrutura familiar do país, de acordo com o comunicado do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgado ontem. Uma das principais mudanças, segundo o estudo, é o aumento da contribuição das mulheres para a renda familiar.

Ano passado, os rendimentos delas já representavam 40,9% da renda dos lares brasileiros, frente a 30,1% em 1992.

Mais presentes no mercado de trabalho, a proporção das mulheres casadas que contribuíam para a renda das famílias também cresceu. Se em 1992 eram apenas 39,1% delas, ano passado já eram quase dois terços das casadas, ou 65,8%. Apesar disso, as mulheres continuam sendo as principais responsáveis pelos cuidados domésticos. Mesmo quando ocupadas, 89,9% delas dedicavam parte de seu tempo aos afazeres do lar em 2009, frente a 49,6% dos homens. Além disso, elas passavam mais tempo nessas atividades: em média, 21,8 horas semanais, contra 9,5 horas dos homens.

Cresce número de mães sozinhas com os filhos Para a economista Lena Lavinas, da UFRJ, se as mulheres estivessem mais liberadas desses afazeres domésticos, elas poderiam estar ainda mais inseridas no mercado.

¿ Mas vários problemas ainda não foram solucionados, sobretudo para as mais pobres. Faltam creches e escolas em tempo integral para liberar a mão de obra feminina ¿ diz Lena, lembrando que, no trabalho formal, elas poderiam contribuir para a Previdência Social, diante das preocupações geradas pelo envelhecimento da população no sistema de aposentadorias.

Entre as mudanças da estrutura familiar brasileira, o Ipea identificou ainda uma diminuição no arranjo familiar mais comum do país. Em 1992, 62,8% dos lares eram formados por casais com filhos. Esse número, no entanto, caiu para 49,9% em 2009. Em compensação, o número de famílias em que as mães vivem sozinhas com os filhos foi de 12,3% para 15,4% (os pais com filhos são 2%). Movimento parecido com o de casais sem filhos, que passaram de 11,7% há 18 anos para 16,2% ano passado.

Mais brasileiros também vivem sozinhos. Ao todo, 8,9% dos domicílios eram formados por mulheres sozinhas, e 7,5%, por homens sós. Em 1992, esses percentuais eram de 6,2% e 5,4%, respectivamente.

Segundo o Ipea, no caso das mulheres, esses arranjos são reflexo, entre outros fatores, da queda da fecundidade para todas as idades e regiões do país.

Essa é uma tendência observada desde meados da década de 1960. Em 2009, a taxa de fecundidade foi de 1,8 filho por mulher, abaixo, portanto, da taxa de reposição (2). Entre as 20% mais ricas, esse índice é ainda menor, de 1%, semelhante a alguns dos países mais envelhecidos do mundo, como o Japão.

Adolescentes têm menos filhos do que nos anos 90 Além disso, uma das boas novas do c omunicado do Ipea em relação à fecundidade é a redução dos índices de gravidez na adolescência.

O estudo revela que, em 1992, para cada mil mulheres de 15 a 19 anos, registrou-se 91 filhos nascidos vivos. Em 2009, foram 63 filhos nascidos vivos por mil mulheres nessa faixa etária, sendo as maiores taxas obser vadas entre as 20% mais pobres.