Título: Pressão sobre a candidata, com Lula junto
Autor: Menezes, Maiá
Fonte: O Globo, 14/10/2010, O País, p. 3

Presidente participou de evento ao lado de Dilma, mas entrou e saiu pela garagem

Gerson Camarotti, Cristiane Jungblut e André de Souza

BRASÍLIA. A candidata Dilma Rousseff foi cobrada ontem por líderes e representantes de igrejas de denominações evangélicas a assumir publicamente e por escrito compromissos contra a legalização do aborto e o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Dilma evitou falar sobre sua decisão imediata na reunião, em Brasília, mas depois anunciou, em Teresina, que assinará uma carta contra o casamento gay e o aborto.

Para coordenadores da campanha petista, o encontro em Brasília virou uma espécie de armadilha. Em vez do apoio esperado, os religiosos impuseram condições para reverter a sangria de votos entre cristãos. Na cúpula do PT, há suspeita de que entre os pastores que estiveram com Dilma há infiltrados da campanha de José Serra. Para evitar desgaste maior, pela primeira vez Dilma não deu entrevista num evento da campanha. O presidente Lula participou da reunião, mas entrou e saiu pela garagem. Não houve permissão para fazer imagem dele.

O maior desconforto foi com a exigência para que Dilma escrevesse uma carta em que assumiria o compromisso de vetar qualquer lei no Congresso aprovando a descriminalização do aborto. Diante disso, o senador eleito Walter Pinheiro (PT-BA) e o deputado Gilmar Machado (PT-MG), ambos evangélicos, foram encarregados de tentar construir um texto intermediário, com linhas mais genéricas.

O documento seria assinado por representantes das igrejas Batista, Universal do Reino de Deus, Assembleia de Deus, Sara Nossa Terra e Quadrangular, entre outras. À reunião estiveram presentes 51 pastores, bispos e parlamentares ligados a igrejas evangélicas.

Segundo relatos de quem participou, Dilma evitou ser incisiva em relação ao aborto: disse que é contra a prática e que é um problema de saúde pública. E não se comprometeu a assinar o manifesto com as exigências de alguns pastores.

- O manifesto dela é outra conversa. Vamos fazer o nosso documento, contra a calúnia, contra a mentira. Dilma é uma pessoa que defende a vida, a família. O interesse é desmentir boatos - disse Gilmar Machado.

Alguns bispos e pastores alertaram que, se Dilma não demonstrasse de forma firme a "conversão" sobre sua posição em relação ao aborto, a carta teria pouca eficácia. A avaliação reservada é que o encontro causou mais desgaste que benefícios.

- O Lula agradeceu e disse que enfrentou esse mesmo tipo de preconceito quando foi candidato. E a Dilma fez um desabafo de que está sendo vítima de injustiças. Temos que encontrar uma solução para sair dessa crise - disse o pastor Everaldo Pereira, vice-presidente do PSC, após a reunião.

As falas de Dilma e Lula não convenceram todos os líderes presentes. Os religiosos apresentaram a ideia de dois documentos: um assinado por Dilma, no qual ela assume esses compromissos publicamente, e outro redigido e assinado pelos religiosos. Religiosos como o pastor Celso Nascimento, da Igreja Quadrangular, não saíram convencidos.

- Precisaria de posição mais firme - disse ele.

O documento que seria assinado pelos religiosos começou a ser elaborado após o encontro, e o texto seria genérico, falando que Dilma "valoriza a vida, a família" e está sendo vítima de mentiras. A força-tarefa de parlamentares e religiosos distribuirá o manifesto em templos. Segundo o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), da Igreja Sara Nossa Terra, Dilma só foi específica quanto a vetar qualquer item que cerceie a liberdade religiosa nos cultos. Como o ponto do projeto de lei 122, pelo qual as igrejas temem não poder se manifestar contra o casamento homossexual, pois seriam enquadradas como homofóbicas.

- Ninguém veio aqui para se convencer da posição dela, viemos para mobilizar. Ela disse que, do jeito que está (o projeto da homofobia), ela veta o texto que cerceia a liberdade de expressão das religiões.

Participantes avaliaram que não será fácil reverter o voto dos fiéis:

- Eleição é 30% de razão e 70% de emoção. Vamos mostrar é que é mentira que ela disse que nem Jesus tiraria sua eleição e que ela é abortista. Mas não vamos transformar a eleição presidencial numa disputa religiosa - disse Gilmar Machado. Pressão sobre a candidata, com Lula junto

Gerson Camarotti, Cristiane Jungblut e André de Souza

BRASÍLIA. A candidata Dilma Rousseff foi cobrada ontem por líderes e representantes de igrejas de denominações evangélicas a assumir publicamente e por escrito compromissos contra a legalização do aborto e o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Dilma evitou falar sobre sua decisão imediata na reunião, em Brasília, mas depois anunciou, em Teresina, que assinará uma carta contra o casamento gay e o aborto.

Para coordenadores da campanha petista, o encontro em Brasília virou uma espécie de armadilha. Em vez do apoio esperado, os religiosos impuseram condições para reverter a sangria de votos entre cristãos. Na cúpula do PT, há suspeita de que entre os pastores que estiveram com Dilma há infiltrados da campanha de José Serra. Para evitar desgaste maior, pela primeira vez Dilma não deu entrevista num evento da campanha. O presidente Lula participou da reunião, mas entrou e saiu pela garagem. Não houve permissão para fazer imagem dele.

O maior desconforto foi com a exigência para que Dilma escrevesse uma carta em que assumiria o compromisso de vetar qualquer lei no Congresso aprovando a descriminalização do aborto. Diante disso, o senador eleito Walter Pinheiro (PT-BA) e o deputado Gilmar Machado (PT-MG), ambos evangélicos, foram encarregados de tentar construir um texto intermediário, com linhas mais genéricas.

O documento seria assinado por representantes das igrejas Batista, Universal do Reino de Deus, Assembleia de Deus, Sara Nossa Terra e Quadrangular, entre outras. À reunião estiveram presentes 51 pastores, bispos e parlamentares ligados a igrejas evangélicas.

Segundo relatos de quem participou, Dilma evitou ser incisiva em relação ao aborto: disse que é contra a prática e que é um problema de saúde pública. E não se comprometeu a assinar o manifesto com as exigências de alguns pastores.

- O manifesto dela é outra conversa. Vamos fazer o nosso documento, contra a calúnia, contra a mentira. Dilma é uma pessoa que defende a vida, a família. O interesse é desmentir boatos - disse Gilmar Machado.

Alguns bispos e pastores alertaram que, se Dilma não demonstrasse de forma firme a "conversão" sobre sua posição em relação ao aborto, a carta teria pouca eficácia. A avaliação reservada é que o encontro causou mais desgaste que benefícios.

- O Lula agradeceu e disse que enfrentou esse mesmo tipo de preconceito quando foi candidato. E a Dilma fez um desabafo de que está sendo vítima de injustiças. Temos que encontrar uma solução para sair dessa crise - disse o pastor Everaldo Pereira, vice-presidente do PSC, após a reunião.

As falas de Dilma e Lula não convenceram todos os líderes presentes. Os religiosos apresentaram a ideia de dois documentos: um assinado por Dilma, no qual ela assume esses compromissos publicamente, e outro redigido e assinado pelos religiosos. Religiosos como o pastor Celso Nascimento, da Igreja Quadrangular, não saíram convencidos.

- Precisaria de posição mais firme - disse ele.

O documento que seria assinado pelos religiosos começou a ser elaborado após o encontro, e o texto seria genérico, falando que Dilma "valoriza a vida, a família" e está sendo vítima de mentiras. A força-tarefa de parlamentares e religiosos distribuirá o manifesto em templos. Segundo o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), da Igreja Sara Nossa Terra, Dilma só foi específica quanto a vetar qualquer item que cerceie a liberdade religiosa nos cultos. Como o ponto do projeto de lei 122, pelo qual as igrejas temem não poder se manifestar contra o casamento homossexual, pois seriam enquadradas como homofóbicas.

- Ninguém veio aqui para se convencer da posição dela, viemos para mobilizar. Ela disse que, do jeito que está (o projeto da homofobia), ela veta o texto que cerceia a liberdade de expressão das religiões.

Participantes avaliaram que não será fácil reverter o voto dos fiéis:

- Eleição é 30% de razão e 70% de emoção. Vamos mostrar é que é mentira que ela disse que nem Jesus tiraria sua eleição e que ela é abortista. Mas não vamos transformar a eleição presidencial numa disputa religiosa - disse Gilmar Machado.