Título: A carta de Dilma
Autor: Menezes, Maiá
Fonte: O Globo, 14/10/2010, O País, p. 3

Pressionada por evangélicos, petista aceita assinar texto contra aborto e casamento gay

Acandidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, confirmou ontem o teor da carta a ser assinada com os evangélicos, fruto de decisão tomada em reunião ontem em Brasília. Além de se comprometer em não enviar ao Congresso projeto de lei que legalize o aborto, Dilma assumiu outra bandeira religiosa: não vai propor leis que permitam o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Ela fez diferenciação entre o que prometeu aos evangélicos e a união civil entre homossexuais - "assunto de Estado, não de religião".

- O que nós decidimos é que eu não mandaria ao Congresso nenhuma legislação que impacte na religião. O Estado brasileiro é laico. Essa legislação, eu não enviarei ao Congresso. Tanto a legalização da lei do aborto como todas as outras. Ficamos de discutir os termos de uma carta-compromisso - disse Dilma, lembrando que o Estado é laico:

- O grande compromisso que eu assumi é que o Estado será laico e que não vai interferir nas questões religiosas. O Estado não pode ser o Estado de uma religião.

Dilma ressaltou que a união civil entre pessoas do mesmo sexo "não é uma questão relativa à religião".

- O que é afeito à religião é a questão do casamento entre homossexais. A união civil diz respeito aos direitos civis. Isso (o casamento entre pessoas do mesmo sexo) diz respeito às igrejas. Ninguém pode interferir. O que assumo a responsabilidade é de jamais enviar legislações, ou sancioná-las, que façam restrições ao direito das religiões de tomarem posições que consideram corretas de acordo com seu credo.

Ela citou o exemplo do projeto de lei, que tramita no Congresso:

- No PL-122, há a criminalização da homofobia. Mas há também a criminalização, e aí há excesso, das manifestações contrárias às relações entre o mesmo sexo dentro das igrejas. Dentro das igrejas o problema é das igrejas. Eu não posso dar direito a uns tirando o dos outros.

Petista volta a criticar boatos

De acordo com a candidata, o compromisso é impedir que as igrejas sejam criminalizadas ao manifestar seus preceitos religiosos:

- A parte relativa ao preconceito contra homossexuais, todos temos que endossar. Mas a relativa a criminalizar as igrejas quando dentro delas há manifestação porque não aceitam é absurdo. Há que se ter equilíbrio. Criminalizar, colocar punição é absurdo. Tem uma parte da lei errada, porque torna crime o que não é.

Dilma chegou a ser perguntada por um jornalista sobre sua preferência sexual:

- Ah, meu querido, não vou nem responder. Tenho uma filha e sou avó. Pelo amor de Deus, me desculpe, esse tipo de discussão não vou ter.

E voltou a criticar os boatos que atingiram sua campanha:

- Sei que tem distribuição de manifestos e posicionamentos equivocados a respeito da minha pessoa, da campanha e do meu partido. Isso não contribui para o país. Se basear em preconceito ou se difundir inverdades para ganhar eleição for método justo, então este país está voltando para trás. É inadmissível que se aceite como padrão de discussão, numa eleição presidencial, que a temática seja o preconceito. A temática religiosa pode ser desenvolvida, agora o Estado terá que ser um Estado laico. Não podemos aceitar que se paute essa discussão pelo ódio religioso.