Título: Michelle, o trunfo dos democratas
Autor:
Fonte: O Globo, 16/10/2010, O Mundo, p. 45
Popular primeira-dama cai na estrada nos EUA para ajudar partido nas urnas
A INCANSÁVEL primeira-dama faz um discurso carismático em Milwaukee (acima). Em Chicago, sua tática foi ter contato direto com eleitores (ao lado)
Fernando Eichenberg
WASHINGTON. Por vezes, a chave de um problema se revela em nebulosos contornos durante o sonho. No caso do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, a solução é bem real, mede 1,82 metro de altura, e dorme ao seu lado. A primeira-dama Michelle Obama não tem superpoderes para, num estalar de dedos, dissolver o elevado índice de desemprego no país, mas é um relevante curinga para evitar que o marido tenha um pesadelo eleitoral em 2 de novembro, data do pleito legislativo americano.
Em seu derradeiro esforço para remotivar a desalentada tropa democrata e recriar a mesma energia vibrante da campanha presidencial de 2008 ¿ quando foi alçado à Casa Branca num movimento de euforia nacional, impulsionado pelo slogan ¿Yes, we can¿ (Sim, nós podemos) ¿ Obama recorreu à inabalável estima popular de sua mulher.
Como em 2008, casal sobe de mãos dadas ao palanque
Diferentemente do marido, cuja popularidade despencou para 47%, segundo pesquisa do ¿Wall Street Journal¿, Michelle mantém sua cotação em alta junto ao público: seu índice de aprovação chega a 68%, segundo uma pesquisa AP-GTf divulgada em setembro. Hoje, em Cleveland, no estado de Ohio, o casal presidencial deve aparecer pela primeira vez, desde a disputa de 2008, de mãos dadas num palanque eleitoral. Até aqui, a primeira-dama havia optado por manter distância da política partidária e reservado sua agenda oficial para suas campanhas contra a obesidade infantil e de auxílio às famílias de militares. Com a proximidade das emblemáticas eleições de meio de mandato presidencial, o comando da Casa Branca requisitou sua presença no intento de minimizar a anunciada derrota nas urnas e a perda da maioria parlamentar no Congresso.
¿ Ela é um inestimável trunfo, e meu sentimento é de que teremos uma boa reação em seu percurso de campanha ¿ avaliou o porta-voz da Casa Branca, Robert Gibbs.
Na semana passada, Michelle Obama fez aparições solo para apoiar candidatos democratas em dificuldades em Milwaukee, Wisconsin. Foram previstas participações suas em 11 eventos de campanha num total de sete estados, no espaço de 12 dias ¿ com provável acréscimo de compromissos de última hora na semana que antecede a votação. Sua turnê inclui ainda o Colorado, Connecticut, Nova York, Califórnia e o estado de Washington.
Com o discurso afinado ao do marido, a primeira-dama entrou com vontade na campanha para relembrar ao eleitor de 2008 a importância da vitória democrata nas eleições legislativas para a continuidade do governo Obama.
¿ Estamos animados. Estamos energizados. Estamos esperançosos, porque sabíamos que tínhamos a chance de mudar para melhor o país que amamos. E a verdade é que ainda temos esta mesma chance e a mesma responsabilidade hoje. A chance de continuar o progresso feito, de terminar o que começamos. Sei que podemos manter vivo o sonho americano ¿ afirmou Michelle, em Milwaukee.
Seu objetivo é impedir a dispersão dos 15 milhões de novos eleitores que ajudaram a eleger seu marido. Em sua mira estão os votos de afro-americanos e do eleitorado feminino ¿ bastante suscetíveis à sua imagem de mãe e primeira-dama. Os estrategistas de campanha adicionaram um tom mais íntimo e familiar nos pronunciamentos do casal Obama.
Líder republicano reconhece poder da primeira-dama
Diante da nova abordagem, ao se dirigir a eleitores potenciais, Michelle tenta ressaltar suas obrigações presentes de mãe e não hesita em relembrar adversidades familiares enfrentadas no passado.
Recentemente eleita a mulher mais poderosa do mundo pela revista ¿Forbes¿, a carismática primeira-dama tornou-se um poderoso artifício eleitoral para o Partido Democrata. A seu favor, tem ainda o fato de naturalmente expor ¿ e ainda constranger ¿ a agressividade dos adversários. Dick Wadhams, líder republicano no Colorado reconhecido por sua língua mordaz e afiada, confessou:
¿ Eu não direi uma só palavra de crítica sobre Michelle Obama, nunca.
O apetite da oposição republicana ¿ alimentado, sobretudo, por um crescimento significativo do ultraconservador Tea Party ¿ lembra, no entanto, que o Partido Democrata precisará bem mais do que a simpatia e a notada elegância e simplicidade do charme da primeira-dama para garantir a maioria dos votos do eleitorado americano em 2 de novembro.